Rodrigo Sias - Economista do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Na última década, a América do Sul deparou-se com condições especialíssimas que permitiram ao subcontinente combinar crescimento econômico consistente e forte diminuição da pobreza e da desigualdade de renda.
Essas condições foram dadas, basicamente, pela combinação de três fatores exógenos, oriundos da economia mundial: o forte crescimento chinês, a enorme liquidez mundial decorrente de taxas de juros baixíssimas nos principais mercados financeiros mundiais e, por fim, a elevação sem precedentes dos preços das commodities - como petróleo e minérios - decorrente dos dois primeiros fatores.
Essas condições possibilitaram a melhora nos termos de troca do comércio exterior sul-americano, neutralizando a restrição externa. Sem o fantasma da crise de pagamentos, o crescimento desses países foi capitaneado pela expansão da demanda interna e da formação bruta de capital fixo, balizados pelo dinamismo do setor externo.
Desde o ano passado, no entanto, o cenário benigno vem mudando. O prolongamento das incertezas acerca da União Europeia, a fraca recuperação econômica dos Estados Unidos e, especialmente, a desaceleração da economia chinesa estão expondo as fragilidades ocultadas durante o recente período de prosperidade.
Em face de um cenário adverso, quais países sul-americanos estariam mais preparados para encarar os novos ventos da economia mundial? Podemos ter algumas pistas para responder essa pergunta, observando os respectivos padrões de inserção na economia mundial, a orientação da política econômica e o ambiente de negócios.
Correndo o risco da simplificação, podem-se observar três grupos distintos de países: no primeiro, se incluem Chile, Colômbia, Panamá e Peru.
São países com economias orientadas para exportação que apostam na liberalização comercial e na assinatura de tratados de livre comércio, possuem uma política econômica orientada para o mercado, além de manterem um ambiente de negócios bastante favorável ao investimento, em especial, ao estrangeiro. Essas características permitem estarem bem posicionados nos rankings de classificação de risco e no "Doing Business".
O segundo grupo é composto por Brasil, Paraguai e Uruguai. São países marcados por uma política econômica "desconfiada" do mercado e com excessivas intervenções em preços estratégicos (como o câmbio e energia).
O grupo apresenta um ambiente favorável, mas complexo, aos investimentos, com excesso de burocracia e regulações instáveis, o que se reflete negativamente nos rankings de liberdade econômica e nas classificações de risco.
Por fim, o terceiro grupo, composto por Argentina, Bolívia, Equador e Venezuela, apresenta uma política econômica extremamente conflituosa com empresários e investidores externos, baseada em nacionalizações, controles cambiais, restrições às importações e manipulações de preços.
Isso é refletido nas suas baixas classificações de risco, no comportamento hostil dos mercados financeiros e nas piores posições em rankings relativos ao ambiente de negócios e corrupção do mundo.
Olhando para os três grupos, é fácil imaginar qual sofrerá mais com o fim do "almoço grátis" da economia mundial.
Afinal, já vimos essa história mais de uma vez. Por que deveríamos esperar por resultados diferentes? Só não vale falar de "veias abertas" ou do "imperialismo" outra vez.
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Rodrigo Sias é economista do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Fonte: Brasil Econômico - 6/2/2013