01 de outubro de 2015

Pesquisa internacional divulgada na ACS - Até 2050, nível do mar poderá subir em até 23 cm e prejuízos econômicos podem chegar a mais de R$ 354 milhões

Pesquisa internacional divulgada na ACS - Até 2050, nível do mar poderá subir em até 23 cm e prejuízos econômicos podem chegar a mais de R$ 354 milhões

Áreas mais atingidas seriam a Ponta da Praia e a Zona Noroeste

Um grupo de cientistas se reuniu nesta quarta-feira (30), na Associação Comercial de Santos (ACS), para divulgar os resultados da mais detalhada pesquisa internacional sobre elevação do nível do mar, o Projeto Metrópole. O estudo mostrou que até 2050 o nível do mar em Santos pode subir até 23 cm.  Com esse aumento, em um dia de ressaca e com fortes chuvas, os prejuízos econômicos para a cidade poderiam chegar a mais de R$ 354 milhões.

O evento foi aberto pelo diretor-executivo da ACS, Marcio Calves, e pela secretária de Meio Ambiente de Santos, Debora Blanco Bastos Dias, que ressaltou a importância de Santos ser a primeira cidade do Brasil onde é realizada essa pesquisa.

 

“Nós temos todas as características físicas e geológicas referentes a essa preocupação com a elevação do nível do mar e os impactos que essas mudanças podem causar. Além disso, a cidade tem hoje um banco de informações organizado, em um sistema em que a gente consegue rapidamente cruzar dados. O município ganha muito nessa parceria com o projeto”.

Cerca de 50 representantes da sociedade civil participaram das discussões. Os pesquisadores apresentaram como foi feito o mapeamento, com alto grau de precisão, em áreas na cidade que estarão mais sujeitas às mudanças climáticas até 2100. Além de Santos, outras duas cidades fazem parte do estudo: Broward (EUA) e Selsey (Inglaterra).

O primeiro palestrante foi o representante do Brasil no painel da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas e coordenador do projeto, José Marengo.  Ele explicou que mudanças climáticas pioram o problema, mas que outros fatores também são responsáveis pela elevação do nível do mar. “Tem relação com aumento da temperatura e derretimento das geleiras. Mas ressacas e marés, que estão presentes com ou sem a mudança climática, também são responsáveis”.

O professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP) Josep Harari disse que as projeções feitas apontaram que até 2025 o nível do mar pode subir em até 18 cm. E, até 2050, pode aumentar 23 cm.

“Porém, em dias de tempestades e ressacas, somando-se a maré ao aumento do nível do mar, podemos chegar a 1,80 em 2050. Hoje, durante esses eventos extremos, já chega a 1,60”.

Segundo ele, não há motivo para pânico, mas é preciso que o governo comece a agir para evitar danos no futuro. “Não há nenhuma catástrofe iminente. Temos entre 10 e 20 anos para buscar alternativas e resolver esses problemas com muita eficiência. Vários países no mundo sofrem com a mesma questão e trabalham com a construção de diques e engordas de praia. Santos tem bons recursos, conhecimentos ecológicos, e não há motivo para alarmismo”.

Celia Regina de Gouveia Souza, do Instituto de Geologia da USP, apontou quais são as soluções que podem ser utilizadas para solucionar a situação e evitar danos à cidade. “Pode ser feito o engordamento artificial da praia. Miami, nos Estados Unidos, foi completamente recuperada, com a praia recomposta assim como a morfologia dela. Há também medidas construtivas, como obras de barramento, por exemplo, para impedir que a água avance. Mas nesses casos há um impacto que é justamente a não proteção da praia, que é uma barreira natural contra a invasão das ondas, das marés e da elevação do nível do mar. O levantamento é importante, porque reflete a realidade para que se busquem alternativas”.

Prejuízos econômicos

Se levarmos em consideração esse aumento de 23 cm até 2050, em um dia com forte ressaca os prejuízos à cidade podem chegar a até R$ 354 milhões de reais, segundo informações do engenheiro da Secretaria de Meio Ambiente de Santos, Ernesto Tabuchi. Isso porque se nenhuma medida de adaptação for tomada nessas áreas mais atingidas, eventos climáticos extremos podem levar a danos urbanos. “Essas projeções foram feitas com base no valor venal atual dos imóveis particulares que poderiam ser atingidos”.

O secretario de Desenvolvimento Urbano de Santos, Nelson Gonçalves de Lima Júnior, disse que a questão está sendo discutida e que, em dezembro, no próximo encontro com os pesquisadores, um novo passo deverá ser dado em relação a essa questão.

“A Codesp também está tratando a situação do canal do Porto e da dragagem. Vamos dialogar para nos planejarmos. Mensurar valores é um passo posterior. Primeiros, temos que entender e escolher a boa técnica para resolver o problema”.

Sobre o Projeto Metropole

O Projeto Metrópole busca alternativas para enfrentar a elevação da maré. No Brasil, o estudo é financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e surgiu a partir de uma chamada sobre vulnerabilidade costeira do Fórum Belmont, em 2012, cujo objetivo é articular esforços e direcionar a pesquisa ambiental para áreas que requerem avaliações mais aprofundadas. A iniciativa tem o apoio da Prefeitura de Santos.

Partindo de cenários de aumento do nível do mar no futuro, devido às mudanças climáticas, o estudo mostra os impactos por meio de ferramentas de visualização apresentadas a pessoas da comunidade, convidadas para opinar sobre quais medidas adaptativas deveriam ser tomadas diante das projeções, apresentadas para 50 e 100 anos.

Ou seja, o objetivo é responder a potenciais riscos ambientais, econômicos e de saúde locais, devido à larga mudança de escala.

Para cada cidade participante, são apresentados cenários utilizando ferramentas de visualização desenvolvidas pelas equipes técnicas do Brasil e dos Estados Unidos. Os dados incluem mudanças no nível do mar, temperatura, frequência de tempestades e ressacas e outras variáveis com projeções de alta resolução para cenários em 2050 e 2100.

 

 

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