Fonte: Valor Econômico
Até investimentos na área de petróleo já em em andamento no país podem ser afetados, segundo setor
As sinalizações que o governo brasileiro der a respeito dos preços de combustíveis nos próximos dias vão definir as decisões de investimentos das empresas do setor de petróleo e gás no Brasil, afirmou o presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), Eberaldo de Almeida Neto. O executivo disse que eventuais intervenções nos preços podem levar a uma postergação dos investimentos no país, inclusive daqueles que já estão em andamento.
“Não existe limite para o intervencionismo. Falta de transparência afugenta o investidor. Isso impacta o fluxo externo estrangeiro direto, que é importante inclusive para apreciar a moeda”, disse em entrevista ao Valor.
Durante uma apresentação deputados e senadores da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE) na tarde de ontem, o executivo apontou que manter a gasolina e diesel ao longo de 2021 nos patamares de dezembro de 2020 teria custado R$ 113 bilhões. Ele afirmou que há múltiplos fatores para os combustíveis estarem caros hoje, mas que os principais são a alta do barril do petróleo e o dólar valorizado em relação ao real.
A crise entre Rússia e Ucrânia nas últimas semanas levou a um forte aumento dos preços do petróleo no mercado internacional e gerou debates sobre preços de combustíveis no Brasil. Ontem, o barril tipo Brent, principal referência no mercado internacional, encerrou o dia a US$ 127,98.
“É hora de o Brasil mostrar que respeita as leis de mercado. Quanto mais investimento externo o país receber, mais apreciada vai ser a moeda e mais poder de compra vai ter o cidadão. No passado já enfrentamos preços de petróleo a US$ 125 o barril, mas o câmbio era quase metade do que é hoje. O poder de compra do brasileiro era maior por causa do câmbio”, disse.
Numa tabela apresentada aos parlamentares ontem, Almeida Neto mostrou que o petróleo já esteve cotado US$ 101,21 em agosto de 2014, patamar quase idêntico ao de 24 de fevereiro de 2022, mas a diferença de câmbio nessas duas datas tornou o barril muito mais caro para os brasileiros hoje. Na data destacada em 2014, o Brent custava R$ 295,74 aos brasileiros. Já em 2022, custava R$ 518,34.
De acordo com Almeida Neto, a tendência é que os preços do barril continuem altos, com potencial para ficar acima dos US$ 90 por pelo menos mais um ano. Na visão dele, a forma como o país lidar com a atual alta de preços vai afetar a atratividade do terceiro ciclo da oferta permanente de áreas de exploração e produção da Agência Nacional do Petróleo (ANP), agendada para abril, assim como a venda de refinarias da Petrobras.
Ele lembrou que estatal é praticamente a única empresa a atuar no refino no país e está com operação superior a 90% em suas fábricas, quando o patamar ideal seria em torno de 70%. “Há pouco investimento privado porque há medo de controle de preços, como já houve no passado”, afirmou.
Almeida Neto lembrou defasagens entre os preços de combustíveis no mercado interno e externo podem levar a desabastecimentos, pois inibe a atuação de importadores, que são responsáveis por suprir de 15% a 20% da demanda interna de diesel e gasolina.
O governo brasileiro avalia no momento a possibilidade de subsidiar os combustíveis usando os dividendos e royalties pagos pela Petrobras. Segundo Almeida Neto, uma iniciativa desse tipo não seria uma intervenção no mercado, mas é complexa, por questões tributárias e logísticas. O IBP defende que subvenções sejam pontuais e focadas em consumidores de baixa renda. “O subsídio tinha que ser direcionado para aqueles que estão sofrendo mais. Seria mais efetivo, além de ter um custo muito menor”, disse.