October 01, 2014

Morre ex-provedor da Santa Casa - A Tribuna - 1.º/10/2014

Publicada em:

A Tribuna - 1.º/10/2014, página A-8, Cidades

# Manoel Lourenço das Neves, de 85 anos, dirigiu o hospital santista por duas décadas. Havia quebrado um fêmur duas semanas atrás

MARCOS MOJICA

DA REDAÇÃO

“Fazer o bem sem olhar a quem” era o lema de Manoel Lourenço das Neves (seu Neves, como era carinhosamente chamado). Simples, direto, mas que ilustra a personalidade de um homem admirado por muitos. Ele morreu ontem de madrugada, aos 85 anos, em Santos, boa parte deles dedicados ao bem-estar das pessoas.

Durante 20 anos, foi o provedor da Santa Casa da Cidade. Após fraturar um fêmur, seu estado de saúde piorou e, depois de duas semanas de internação, teve parada cardiorrespiratória e falência múltipla de órgãos.

O velório ocorreu ontem à tarde na capela Santa Isabel, com a presença de admiradores, parentes e amigos, entre eles políticos, representantes da Prefeitura, funcionários e voluntários do hospital. O enterro foi no Cemitério do Paquetá, às 16h30.

Sua filha, Monica Lourenço das Neves, contou que o ex-provedor, depois de perder sua mulher – Conceição, de enfarto, há dois anos –, ficou sem equilíbrio emocional e solitário. “Foram 62 anos casados, seis de namoro, um vivia em função do outro. Para ele, os momentos felizes eram estar ao lado da família, que ele sempre cultivou, com respeito e amor. Tive 49 anos de vida ao lado do meu pai, e ele me deixou de herança a honradez, o dom da caridade, generosidade e honestidade”, disse Monica.

LEGADO

Outro admirador e companheiro, José Fernando Carvalho, diretor de Apoio da Santa Casa, disse: “Estou aqui há 44 anos, trabalhei com ele por 22. Foi um homem venerado por todos. Bom, íntegro, da mais indiscutível honestidade. Sempre fazendo o bem”.

Carvalho disse que o legado dele são as obras que fez para o hospital. “O Neves reformou alas, inaugurou outras, como a UTI e a unidade neonatal. Fez muita coisa. Foram 20 anos, mas ele conseguiu modernizar em 30% este hospital. Uma de suas últimas obras foram 12 mil metros quadrados de telhados, o que hoje custaria em torno de R$ 6 milhões”.

O prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) chegou às 15h30 ao velório e comentou: “A Cidade perde um dos seus ícones, um dos melhores seres humanos que conheci na vida. Pela sua perseverança em fazer o bem, servirá de exemplo para muitas pessoas, santistas e brasileiros, assim como inspirou a minha vida”.

# Memória

“Ao contrário dos meus antecessores, quero sair pela porta da frente e sem ser carregado”

Manoel Lourenço das Neves, que deixou a Provedoria da Santa Casa em 21 de janeiro, ao lembrar para A Tribuna, brincando, que a porta dos fundos da instituição é a do velório

“A cada R$ 100,00 que gastamos num atendimento do SUS, temos de volta apenas R$ 60,00. O restante é bancado pela Santa Casa, e a dívida vai aumentando. É uma guerra diária”

Neves, na mesma entrevista, ao abordar a situação financeira do hospital

# Lamento e despedida

“Fui vice-provedor dele. Perdemos um grande administrador. Estamos tristes com a perda de nosso líder, que representava os ideais da Santa Casa”

Felix Alberto Ballerini, atual provedor da Santa Casa

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“A Cidade perde uma grande pessoa, que sempre esteve à frente da Santa Casa. Foi uma grande perda para Santos. A saúde da Cidade deixou de contar com essa grande liderança”

Marcos Calvo, secretário municipal de Saúde, e ex-diretor da Santa Casa

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“Somos as primeiras voluntárias a surgir nos hospitais do Brasil, e isso aconteceu aqui na Santa Casa. Sofremos uma perda grande, ele era nosso amigo”

Edizia Souza Monteiro, voluntária do hospital

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# Hospital, esporte, religião e café eram parte da vida

DA PESQUISA

Manoel Lourenço das Neves nasceu em 1.º de dezembro de 1928, em Santos. Cursou a pré-escola no Liceu São Paulo, de onde saiu com o diploma de contador, em 1946, quando o curso tinha prerrogativas de Ensino Superior.

Por 47 anos, trabalhou na União de Armazéns Gerais, no ramo de armazenagem e exportação de café. Dirigiu a Santa Casa de Misericórdia de Santos por 20 anos.

Morou no Paraná por cerca de dois anos, e lá introduziu uma fazenda de café e ajudou a fundar a cidade de Moreira Salles. “Peguei uma terra no chão, no meio da selva, e transformei numa área produtiva”, disse a A Tribuna em janeiro, quando deixou o cargo de provedor da Santa Casa.

A história de Neves com a Santa Casa começou oficialmente em 17 de agosto de 1973, quando se filiou como irmão do hospital. Em 1974, já exercia a função de Mordomo do Mês, responsável por uma ala durante um período. Circulava das 19 horas à meia-noite pelos corredores para garantir que tudo saísse bem. Nos anos 80, já fazia parte do Conselho Deliberativo.

MODERNIZAÇÃO

O ex-provedor participou da modernização do hospital e acompanhou a expansão do Plano de Saúde: UTI Pediátrica, melhorias no laboratório de Oncologia e novas unidades, como a Coronariana e a UTI Infantil.

Neves também coordenou e ampliou várias alas do hospital. Ajudou a fundar o Botafogo Atlético Clube, instituição amadora de Santos. Também foi diretor do Lions Clube e da Associação Comercial de Santos. Católico, foi membro da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo. Também se dedicou à solidariedade na Cruz Vermelha.

Confira a reprodução da matéria

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