September 03, 2014

Em Roterdã, qualificação é desafio - A Tribuna - 3/9/2014

Publicada em:

A Tribuna - 3/9/2014, página C-6, Porto & Mar

# Mercado portuário holandês busca profissionais com conhecimentos de sistemas eletrônicos e Tecnologia da Informação (TI)

LEOPOLDO FIGUEIREDO

ENVIADO ESPECIAL A ROTERDÃ

Maior complexo marítimo do mundo ocidental, o Porto de Roterdã, na Holanda, enfrenta um novo desafio – a falta de profissionais qualificados para trabalhar em seus terminais, que contam cada vez mais com tecnologias avançadas. Ironicamente, essa carência é um dos motivos que leva à crescente automatização das operações em suas instalações. A análise é do diretor da Shipping and Transport College (STC ou, na tradução do inglês, Faculdade de Transporte e Navegação) em Roterdã, Cornelius Hulst, e foi apresentada a empresários e autoridades do Porto de Santos na manhã de ontem, durante visita à sede local da entidade de ensino.

A ida à unidade da STC, localizada às margens do Rio Maas (o canal de navegação do Porto de Roterdã), integra a agenda que o grupo brasileiro cumpre em portos da Holanda e da Alemanha desde segunda-feira. Essas visitas técnicas complementam a programação da edição deste ano do Santos Export - Fórum Internacional para a Expansão do Porto de Santos, realizada nos últimos dias 12 e 13 em Guarujá.

O evento é uma iniciativa do Sistema A Tribuna de Comunicação e realização da Una Marketing de Eventos.

Criada em 1833 em Roterdã e, hoje, com unidades em vários países, inclusive no Brasil (em Recife), a STC é uma fundação sem fins lucrativos voltada à qualificação de profissionais dos setores portuários, marítimo, de transportes e pesqueiro.

Atualmente, na cidade holandesa, conta com 7 mil alunos e certifica 12 mil estudantes por ano, através de seus programas de ensino nos níveis básico, técnico e superior, incluindo cursos de pós-graduação e mestrado.

Os problemas envolvendo a qualidade da mão de obra portuária foram destacados durante a apresentação que Hulst fez da STC aos integrantes da comitiva do Santos Export. Segundo ele, o mercado portuário em Roterdã carece de profissionais qualificados, especialmente com conhecimentos de sistemas computacionais e Tecnologia da Informação (TI). “A tecnologia avançou muito. Hoje, em Roterdã, a grande maioria dos trabalhadores portuários têm de ter conhecimentos de TI. Mas isso não ocorre e se torna difícil encontrar pessoas preparadas. Esse é um desafio para as empresas da região, especialmente os terminais marítimos, que cada vez mais investem em tecnologia”, afirmou.

CONTÊINERES

O diretor da entidade de ensino cita que esse cenário afeta, em especial, os terminais de contêineres. Com o aumento do tamanho dos navios e a necessidade de ampliar a velocidade das operações, as instalações adotam sistemas computacionais cada vez mais avançados, mas se deparam com a falta de profissionais para operá-los.

Esta não foi a primeira vez que a comitiva do Santos Export se deparou com relatos desse tipo. Na última segunda-feira, durante visita às instalações da unidade da APM Terminals (Grupo Maersk) na nova área de expansão do porto, Maasvlakte 2, o diretor de Gestão da empresa, Frank Tazelaar, afirmou que um dos motivos para automatizar suas operações de carga, descarga, transporte e armazenagem era a dificuldade para encontrar profissionais qualificados para trabalhar em terminais de contêiner. Esse cenário, associado à necessidade de uma maior velocidade no escoamento das cargas, fez com que a empresa implantasse sistemas computacionais para coordenar a movimentação das mercadorias desde sua retirada ou colocação no navio até seu posicionamento no pátio.

De acordo com o diretor da STC, Cornelius Hulst, esse apagão de mão de obra é um fenômeno bem percebido em portos que utilizam tecnologia avançada. “Esse problema, nós notamos em grandes portos como Roterdã e outros cinco ou seis no mundo. São complexos que recebem navios de última geração, com mais de 15 mil TEU (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés), e precisam de velocidade para operá-los. Essa falta já não é tão percebida em portos que trabalham com embarcações menores, como os do Brasil”, afirmou.

A STC mantém programas de ensino voltados à TI portuária, mas admite que a quantidade de alunos que forma não consegue atender a demanda do mercado. “Temos 7 mil alunos e, na região do complexo portuário, incluindo seus terminais no interior do país, temos 500 mil profissionais. O que conseguimos preparar é uma gota no oceano”, destacou Hulst.

# Comitiva visita centro de ensino e terminal

Após a apresentação do diretor da Shipping and Transport College (STC ou, na tradução do inglês, Faculdade de Transporte e Navegação) em Roterdã, Cornelius Hulst, a comitiva do Santos Export conheceu as instalações da instituição de ensino, especialmente seus laboratórios de simulações operacionais. Esses ambientes reproduzem, em computadores, salas de comando de navios conteineiros e graneleiros, rebocadores, barcos pesqueiros e terminais.

Em seguida, o grupo visitou o terminal Alpherium, instalação intermodal localizada a cerca de 100 quilômetros do Porto de Roterdã. A empresa é uma das principais operadoras logísticas da região, tendo como seus clientes as fabricantes de cerveja Heineken e Budweiser.

Todo o transporte de cargas entre sua unidade e o complexo marítimo é feito através de barcaças. Caminhões e carretas são utilizados apenas entre sua instalação e as indústrias de bebidas. Dessa forma, consegue reduzir a circulação de veículos na área de Roterdã.

Também ontem, a comitiva do Santos Export conheceu o centro de visitantes de Maasvlakte 2 e se reuniu com professores e pesquisadores do Centro de Logística e Economia Marítimas (MEL, na sigla em inglês), órgão da Universidade Erasmus de Roterdã voltada à pesquisa e à qualificação de executivos do setor. A instituição de ensino é reconhecida como uma das principais do setor em programas de ensino superior e pós-graduação em gestão, economia e direito marítimos.

Hoje, as autoridades e os empresários do Porto de Santos que participam da missão do Santos Export deixam Roterdã e vão para Dusseldorf, na Alemanha.

Amanhã, eles visitarão um dos principais portos fluviais da Europa, o de Duisburg. (LF)

# Participantes

A comitiva do Santos Export é composta por executivos dos principais terminais portuários e das companhias prestadoras de serviço na Baixada Santista.

Há dirigentes de instalações de contêineres e passageiros, da Praticagem de São Paulo.

Também participam representantes de armadores em atuação no Brasil), a Associação das Empresas do Distrito Industrial e Portuário da Alemoa (AMA), a Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra), a Associação Brasileira de Terminais Retroportuários e das Empresas Transportadoras de Contêineres (ABTTC) e a Associação Comercial de Santos.

Entre as autoridades, estão o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Mário Povia, e o presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), Angelino Caputo Oliveira.

Ainda integram o grupo diretores do Sistema A Tribuna de Comunicação e da Una Marketing de Eventos

# Missão internacional

A visita de autoridades e empresários do Porto de Santos a Roterdã (Holanda) e Duisburg (Alemanha) faz parte da programação da edição deste ano do Santos Export.

Esta é a primeira vez que haverá o retorno a um complexo portuário. Em 2005, quando as atividades do fórum passaram a ser complementadas com uma viagem a portos estrangeiros, os destinos foram Le Havre (França) e Roterdã. A ideia é observar o quanto o complexo holandês evoluiu.

Nestes nove anos, foram visitados complexos da América do Norte (Houston, Los Angeles, Long Beach, Miami e Seattle, nos Estados Unidos, e Vancouver, no Canadá), da América Central (o Canal do Panamá e Colón, no mesmo país), da Europa (Southampton, na Inglaterra, Barcelona, na Espanha, Gênova, na Itália, Hamburgo, na Alemanha, Copenhague, na Dinamarca), da Ásia (Xangai, Shenzhen, Ningbo e Hong Kong, na China) e do Oriente Médio (Jebel Ali, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos)

Confira a reprodução da capa de A Tribuna com a chamada para a matéria

Confira a reprodução da matéria

 

Share

Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com os nossos Termos de Uso e Política de Privacidade e, ao continuar navegando neste site, você declara estar ciente dessas condições.