September 05, 2014

Burocracia desaponta alemães - A Tribuna - 5/9/2014

Publicada em:

A Tribuna - 5/9/2014, página C-5, Porto & Mar

# Estrangeiros querem investir no Porto de Santos, mas criticam postura do governo e cobram agilidade

LEOPOLDO FIGUEIREDO

ENVIADO ESPECIAL A DUSSELDORF

O maior porto fluvial do mundo, o de Duisburg, na Alemanha, tem interesse em investir em Santos. Entretanto sua direção aponta erros na postura do governo brasileiro em relação ao setor portuário e cobra maior agilidade e menor burocracia.

O presidente da Duisburger Hafen AG (administradora do complexo), Erich Staake, afirmou estar “frustrado, desapontado com as ações do Brasil (com os portos)”.

As críticas de Staake foram feitas logo após se reunir com empresários e autoridades do Porto de Santos na manhã de ontem, na sede da Duisburger Hafen AG, em Duisburger, que fica a 24 quilômetros de Dusseldorf.

Entre os representantes do poder público que participaram do encontro, estavam o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Mario Povia, e o presidente da Companhia Docas do Estado de SãoPaulo (Codesp, a Autoridade Portuária de Santos), Angelino Caputo e Oliveira.

A reunião integra a programação da visita técnica que o grupo realiza a complexos portuários da Holanda e Alemanha desde o início da semana. A viagem complementa a edição deste ano do Santos Export - Fórum Internacional para a Expansão do Porto de Santos, organizada pelo Sistema A Tribuna de Comunicação e pela Una Marketing de Eventos nos últimos dias 12 e 13, em Guarujá.

Ao apresentar o Porto de Duisburg à comitiva brasileira, Staake declarou que sua companhia tem interesse em investir no complexo santista e em suas atividades logísticas, quer como consultor, quer como operador de centros de distribuição, terminais ou serviços de transportes hidroviários ou ferroviários. Depois da exposição, ao comentar sobre esses planos, afirmou que, “apesar do interesse”, estava “desapontado” com o Brasil.

“O Governo está sempre anunciando que fará investimentos, realizará projetos. E algo tem que acontecer, mas não acontece. É necessário fazer as coisas mais rápido, mas todo o processo é muito lento e há muita burocracia. Você fica desapontado”, declarou Staake.

ESTUDO DE ACESSIBILIDADE

O executivo tem familiaridade com o cenário portuário brasileiro, especialmente o de Santos. Em 2011, a Duisburger Hafen Ag firmou uma parceria com a Secretaria de Portos (na época, dirigida por José Leônidas Cristino) para estudar os problemas de acessibilidade do cais santista, especialmente nas ligações viárias com São Paulo, e propor soluções. A pesquisa foi concluída em 2012 e, segundo Erich Staake, nada foi feito com o trabalho.

Entre as ações sugeridas, estão a melhor coordenação, pelas autoridades públicas, de projetos de terminais; o aumento da capacidade dos sistemas rodoviário e ferroviário; a implantação de um sistema de controle e gestão de tráfego urbano e portuário; maior intermodalidade e a exploração de um serviço de barcaças para o transporte de carga dentro da área portuária; a implantação de um sistema de identificação de cargas no complexo e no Interior do Estado; e a construção de uma ligação seca (ponte ou túnel) entre as duas margens do Porto, entre o Saboó e a Ilha Barnabé.

Em vários trechos, o estudo cita como exemplo a própria infraestrutura do Porto de Duisburg.

Considerado o maior complexo portuário fluvial do mundo, ele opera contêineres, granéis e carga geral. Especificamente em relação ao contêiner, conta com nove terminais especializados, capazes de operar 4 milhões TEU (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés).

No ano passado, embarcaram ou desembarcaram 3,5 milhões TEU, quase a mesma quantidade do cais santista, que somou 3,44 milhõesTEU.

# Participantes

A comitiva do Santos Export é composta por alguns dos principais executivos dos terminais portuários e das companhias prestadoras de serviço na Baixada Santista.

Há dirigentes de instalações de contêineres e passageiros, da Praticagem de São Paulo.

Também participam representantes de associações empresariais, como a Centronave (Centro Nacional de Navegação, que reúne os armadores em atuação no Brasil), a Associação das Empresas do Distrito Industrial e Portuário da Alemoa (AMA), a Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra), a Associação Brasileira de Terminais Retroportuários e das Empresas Transportadoras de Contêineres (ABTTC) e a Associação Comercial de Santos.

Entre as autoridades, estão o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Mário Povia, o presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), Angelino Caputo e Oliveira, o secretário municipal de Assuntos Marítimos e Portuários de Santos, José Eduardo Lopes, o secretário municipal de Indústria e Comércio de Cubatão, Carlos Alberto Benincasa, e o diretor de Desenvolvimento Portuário de Guarujá, José Ribamar Brandão.

Ainda integram o grupo diretores do Sistema A Tribuna de Comunicação e da Una Marketing de Eventos.

# Para Caputo, aprovação de lei atrasou projetos

O presidente da Codesp, Angelino Caputo e Oliveira, considera que projetos portuários acabaram demorando para ocorrer nos últimos anos devido à aprovação da nova Lei dos Portos, a 12.815, sancionada em 5 de junho do ano passado.

O comentário foi feito em resposta às críticas do presidente da Duisburger Hafen AG, Erich Staake, sobre a falta de investimentos federais no setor portuário e a burocracia desses processos.

Caputo lembra que a Duisburger fez seu estudo sobre o Porto de Santos entre 2011 e 2012. Logo em seguida, começaram os debates sobre o novo marco regulatório do setor. “Muita coisa que ele falou, no âmbito de planejamento, aguardou a lei sair para se ajustar o modelo”, explicou.

Quanto à não realização de obras, o presidente da Autoridade Portuária reconheceu que “nos últimos dois anos, nos concentramos em fazer projetos”.

Ele destacou que, como consequência, neste semestre, a quantidade de projetos que serão licitados “é muito grande”.

Entre as obras previstas, estão as próximas etapas da Perimetral, tanto do lado direito como do lado esquerdo.

Questionado sobre o estudo elaborado pela Duisburger Hafen AG, Caputo afirmou desconhecê-lo. Funcionário de carreira do Banco do Brasil, o executivo trabalhava na Casa Civil quando, no semestre passado, foi empossado pela Secretaria de Portos como presidente da Codesp.

“Soube que existia esse estudo agora, nessa viagem. Tenho a maior curiosidade de chegar em casa, abrir esse estudo e lê-lo. As ideias, sendo boas e aproveitáveis, com certeza vão ser utilizadas nos estudos que estão sendo realizados agora, como o masterplan e o PDZ (Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do Porto)”, destacou.

O diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq, órgão regulador do setor), Mario Povia, também admitiu a demora na realização de projetos do setor. Mas apresentou outras explicações. “Essa demora é normal para a realidade brasileira. Temos um tempo grande de maturação de projetos. E também há muitos órgãos que têm de liberálos”, afirmou.

Confira a reprodução da capa de A Tribuna com a chamada para a matéria

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