December 21, 2014

Base da Petrobras atrasa e frustra região / A Tribuna - 21/12/2014

Publicada em: A Tribuna - 21/12/2014, páginas C-4 e C-5, Economia

# Dificuldades com a exploração do pré-sal desafiam metas dos prefeitos e da iniciativa privada

LUCAS KREMPEL

DA REDAÇÃO

Pensar e agir como região metropolitana é o grande desafio dos prefeitos da Baixada Santista para garantir a chegada de investimentos do setor de petróleo e gás aos nove municípios nos próximos anos. O principal deles é a instalação de uma base de apoio às atividades offshore (distante da costa) da Petrobras na Bacia de Santos.

“A base é a portaria da fábrica, que está em alto-mar. É ela que vai atrair os fornecedores de serviços, gerar empregos e movimentar o setor. Precisamos dela para trabalhar com peças e componentes”, diz o coordenador da Câmara de Petróleo e Gás, da AssociaçãoComercial de Santos, Vicente do Valle.

A Petrobras finalizou a concorrência para a contratação de dois berços no Porto de Santos, que serviriam como uma base de manutenção da estatal na região.

O resultado, no entanto, não agradou à empresa. Apenas uma interessada concorreu, a Bandeirante Logística Integrada, mas com preço considerado acima do mercado pela estatal.

Uma fonte da Petrobras ouvida por A Tribuna confirma que uma nova licitação precisará ser feita pela estatal. Agora, a Petrobras prepara um novo edital, mas antes tentará entender por quais motivos não houve interesse de outras empresas.

Segundo a fonte, só depende dos empresários locais que a base offshore fique na região. “Para a Petrobras não é interessante que todas as operações fiquem concentradas no Rio ou em Itajaí (SC). Ter uma base aqui é importante, desde que haja interesse local”.

Em julho último, a Petrobras havia anunciado que a licitação para a contratação de dois berços de atracação em Santos estava aberta. Os convidados para a licitação foram operadores logísticos com experiência em movimentação de volumes compatíveis com a atividade offshore.

A assinatura do contrato para os dois berços estava prevista para o final deste ano. O primeiro berço deveria entrar em operação no segundo semestre de 2015 e o outro no segundo semestre de 2016.

Uma das preocupações dos santistas está na forte concorrência de outros estados pela base, principalmente o Rio de Janeiro. “O Rio faz um lobby fenomenal para tudo ficar lá, mas eles não podem concentrar tudo. A indústria paulista e o Porto de Santos têm condições de atrair esses investimentos”, afirma Valle.

De acordo com o secretário de Desenvolvimento Econômico de Santos, Omar Silva Junior, a instalação da Petrobras na Cidade veio acompanhada de uma grande expectativa em relação à implantação de uma base offshore local. “Esta expectativa até agora não se concretizou por motivos alheios à vontade e aos esforços da municipalidade. A base (berço portuário) é o principal atrativo para a instalação de empresas locais que trabalham a construção, manutenção de peças e prestação de serviços relacionados à operação offshore”.

Apesar disso, o representante da Prefeitura de Santos afirma que São Paulo concentra cerca de 80% das empresas (indústrias) do setor de óleo e gás e a implantação da base na região é uma tendência.

Itanhaém e São Vicente, que têm empresas do setor instaladas em seus municípios, também contam com projetos para a expansão do setor na região. “Temos duas áreas para a instalação de um centro de logística voltado para fornecedores de serviços da Petrobras. Uma de 1 milhão de metros quadrados, próxima ao aeroporto, que estamos lutando para conseguir a cessão do Governo de São Paulo para o Município. A outra alternativa fica no lado sul da Cidade, uma área particular”, comenta o prefeito de Itanhaém, Marco Aurélio Gomes dos Santos.

Além disso, o chefe do administrativo lembra que a Petrobras deve inaugurar, no primeiro semestre de 2015, seu próprio terminal no Aeroporto Estadual Antonio Ribeiro Nogueira Júnior, com capacidade para 60 mil passageiros por ano (entre pilotos, técnicos e engenheiros para as plataformas).

O prefeito de Itanhaém mantém o otimismo com o desenvolvimento do setor na Baixada Santista e ressalta que todos os municípios estão lutando juntos. “A expectativa de exploração em Macaé (RJ) é entre 15 e 17 anos, precisamos nos preparar para receber esse setor”, diz. “Neste momento estamos vendo quais medidas e benefícios podemos oferecer para atrair essas empresas”.

ALERTA

Durante viagem à Macaé de uma comitiva organizada pela ACS, em novembro, o presidente da Associação Comercial e Industrial de Macaé, Aristóteles Cliton Santos, disse que o município carioca não se preparou devidamente para receber a cadeia de petróleo e gás. “Nós não esperávamos que os impactos fossem tão grandes.

Quando a Petrobras chegou em nosso município, foi um motivo de muita alegria, mas a verdade é que não nos preparamos como deveríamos. Hoje nosso município conta com inúmeros impactos, como no trânsito, distribuição de água e tratamento de esgoto, além da mobilidade urbana. Atualmente cerca de 800 carretas passam diariamente pelo centro de nossa Cidade”.

O coordenador da Câmara de Petróleo e Gás da ACS lembrou que, em Santos, existe um ambiente de preparação para o setor. “Criamos a câmara com o objetivo de reunir agentes do poder público, Petrobras, empresas associadas e representantes de outros municípios para acompanharmos este processo”.

Municípiosede de uma unidade da Iesa Óleo e Gás na região, São Vicente também está atenta ao desenvolvimento do setor. “Na nossa Área Continental temos uitas áreas para essas empresas. São todas particulares, mas podemos intermediar esses contatos”, avisa o prefeito de São Vicente, Luis Cláudio Bili.

Para Bili, os efeitos do pré-sal agregam valores na hora de pedir recursos em Brasília. “Facilita nossa busca por investimentos para VLT, viadutos na Imigrantes e túnel Zona Leste-Zona Noroeste”.

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# Problemas

>>Preço do barril

Especialistas afirmam que o Plano de Investimentos da Petrobras para o pré-sal foi traçado com um cenário onde o barril de petróleo varia entre US$ 80 e US$ 100. Na sexta-feira, o barril fechou custando US$ 60,67.

Para o coordenador do curso de Geologia do Unimonte, Juarez Fontana, se o valor chegar e permanecer em US$ 45 ou US$ 50, isso inviabiliza o planejamento. Já o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, afirma que é o momento de repensar os próximos campos do pré-sal. Ele cita o forte aumento da oferta dos países produtores e a estabilização na demanda.

>>Corrupção

As revelações da Operação Lava Jato, que investiga um grande esquema de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras, lobistas, doleiros e políticos, são um agravante para os planos da estatal.

Um possível rebaixamento nas avaliações de nota da estatal pelas agências de riscos podem prejudicar ainda mais o cenário da empresa.

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# Entrada de Santos é opção para base

Um possível cancelamento na licitação de dois berços no Porto de Santos não deve alterar o empenho de entidades, Governo Estadual e empresários de viabilizar uma base de apoio às atividades offshore (distante da costa) da Petrobras na Baixada Santista. A Tribuna apurou que existem, pelo menos, três sugestões de projeto para a região.

Uma das ideias foi apresentada pelo presidente da Investe SP, Luciano Almeida, em congressos internacionais, entre eles o Brazil - Texas Chamber of Commerce, em Houston, nos Estados Unidos, em maio último.

Estimado em US$ 340 milhões (R$ 901 milhões), o projeto contaria com investimento do Governo de São Paulo. O valor inclui construção de cais, terraplanagem, dragagem, utilitários e acessos. A área fica na entrada de Santos, via Cubatão, cuja localização é mantida sob sigilo.

Procurada por A Tribuna, a Investe SP não quis comentar o projeto. A agência vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação de São Paulo, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que por se tratar de um momento de transição de governos (segundo mandato de Geraldo Alckmin) e o projeto ser embrionário, o ideal seria aguardar para revelar detalhes.

“Precisamos de uma base da Petrobras na região. A contratação dos dois berços é uma solução para o momento, mas é necessário pensar na base para o momento em que a produção no pré-sal estiver plena. As empresas só virão à Baixada Santista com a garantia que vão produzir e entregar aqui”, argumenta o coordenador da Câmara de Petróleo e Gás da  Associação Comercial de Santos, Vicente do Valle.

Atualmente, a Petrobras opera de forma emergencial no Ecoporto (antigo Tecondi), em Santos. A Baixada é um ponto estratégico para a estatal, que opera em campos de petróleo e gás distantes até 300 quilômetros da costa.

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# Construção civil espera impacto na Baixada

Um dos setores mais atingidos pela chegada da Petrobras à Baixada Santista é a construção civil. De junho de 2011 até junho de 2014 foram lançados 18.524 apartamentos em Santos, Praia Grande, Guarujá e São Vicente, segundo levantamento de Robert Zarif / Secovi.

O momento, no entanto, é de esperar. Enquanto não há a ocupação total do estoque de moradias por trabalhadores de petróleo e gás, o Porto de Santos responde pela demanda.

“O grande evento de Santos não se deu. Todas as empresas vieram para Santos com a história do pré-sal, mas a Petrobras atrasou sua programação. Temos parte dos funcionários aqui, mas o grande contingente ainda não veio. Então, o grande efeito que se esperava do pré-sal está atrasado. Mas nem por isso o mercado parou porque o próprio santista está absorvendo os imóveis”, diz o empresário Leopoldo Arias, da Arias Invespar.

Ele acredita que os funcionários dos novos terminais portuários BTP e Embraport ajudaram a absorver o que foi construído. “Mas o mercado não fica à espera do grande acontecimento (pré-sal). Os quartos diminuíram de dimensão porque o mercado se adaptou. Com Petrobras, o estoque vai ser absorvido e voltar ao normal”.

Para o presidente do Grupo Mendes, Armênio Mendes, o escândalo deflagrado com a Operação Lava Jato vai atrasar mais ainda os planos para a região. “Nós vivemos numa cidade onde a esperança era o pré-sal. A maior empresa se chama Petrobras. Se a nossa perspectiva era o desenvolvimento do pré-sal, a Petrobras está com esses assaltos, um atrás do outro”.

Segundo o consultor imobiliário Carlos Meschini, a expectativa com o pré-sal está abaixo do esperado. “Não dá para dizer que não tem nada aqui, mas atendeu apenas 20% a 30%”. Mas ele ainda aposta em crescimento. “O Marcusso (ex-gerente-geral da Petrobras em Santos) disse uma vez que as empresas só vêm com o pré-sal em pleno funcionamento”, finaliza.

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# Lançamentos

18.500 apartamentos foram lançados em Santos, São Vicente, Praia Grande e Guarujá entre junho de 2011 e junho de 2014, aponta estudo de Robert Zarif/Secovi

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# Valongo tem progresso lento

Degradado por décadas, o Valongo ressurgiu após o anúncio da construção dos três prédios da Petrobras e do Museu Pelé no bairro. Quatro anos antes da inauguração dos empreendimentos, o empresário Marcílio Macedo de Andrade deu o passo inicial e investiu na construção da casa de eventos Estação Santos.

“Na época diziam que eu estava adiantado em três anos, mas hoje vejo que são seis anos, pelo menos. É um progresso muito lento na região”, diz. “Precisamos tirar o Porto Valongo do papel. Somente assim teremos um público circulante bom. Hoje, eu dependo muito mais dos grandes clientes que busquei em empresas de Santos, São Paulo e ABC”.

A demora para concretizar o Porto Valongo já trouxe problemas para o empresário. “Uma grande operadora de telefonia móvel desistiu de fazer um evento na casa por conta do gargalo que temos com os caminhões nessa região”.

Macedo avisa que a parte visual melhorou com a primeira torre concluída, a estreia do Museu Pelé e obras de revitalização nas ruas São Bento e Marquês de Herval, que hoje não funcionam mais como depósito de entulhos e estacionamento de caminhões. “Precisamos ter pessoas morando nesse bairro. Morei em Salamanca (Espanha) e fui para Filadélfia (Estados Unidos) e a revitalização nesses lugares funcionou assim. Cinema de rua, livraria e comércio de bairro são necessários”.

O empresário ressalta a importância do projeto da Odebrecht na Praça Lions Clube, o Valongo Brasil (prédios em V) que contará com hotel, lojas e escritórios. Bem próximo à torre da Petrobras, o empreendimento está com 63% da obra concluída, faltando alvenaria, instalação e acabamento. “Temos um potencial turístico imenso. São Paulo é muito próxima e são 18 milhões de pessoas morando na região metropolitana. Elas querem passar o final de semana aqui”, diz. “Se o poder público não tem condições de ajudar, abra espaço para as parcerias com o setor privado. Vim para cá com o incentivo do Alegra Centro, mas o projeto não se materializou como era esperado”.

Nas redondezas do prédio da Petrobras, nenhum outro empreendimento, restaurante ou lojas foram lançados nos últimos dois anos.

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# Projetos efetivos em Santos

>>Instalações administrativas

A sede das operações da Petrobras na Bacia de Santos está espalhada em sete prédios de Santos. Recentemente, a empresa inaugurou a primeira das três torres do complexo no Valongo.

Cada prédio tem capacidade para 2,2 mil funcionários. Não há previsão de quando os dois próximos edifícios serão construídos, mesmo com as fundações já finalizadas.

>>Centro de Pesquisa

O Centro Tecnológico da Baixada Santista (CTBS), que é fruto de um convênio entre a Petrobras, Prefeitura de Santos e as universidades estaduais (USP, Unesp e Unicamp), está em andamento. De acordo com o secretário de Desenvolvimento Econômico de Santos, Omar Silva Júnior, as obrigações da Prefeitura em relação ao convênio estão sendo atendidas nos prazos, com o repasse do terreno. O projeto executivo está sendo executado sob a responsabilidade da Fundação USP (Fusp). A previsão de finalização das obras é o segundo semestre de 2016.

Serão nove laboratórios em áreas ligadas à óleo e gás que trarão muitas possibilidades de desenvolvimento tecnológico à Baixada Santista e que ficarão bem ao lado do Parque Tecnológico de Santos.

>>Arranjo Produtivo

Iniciou-se uma discussão para criar um Arranjo Produtivo Local de Óleo e Gás (APL - O&G), considerando as empresas do setor já instaladas em outras cidades (Saipem em Guarujá e a Líder Aviação,em Itanhaém).

“Acreditamos que este fator será bem positivo para a atração de investimentos regionais”, diz Omar Silva Jr.

>>Empresas

O secretário santista afirma que é procurado constantemente por organismos internacionais que estão trabalhando em atividade de prospecção para empresas do setor. “A visibilidade que a Cidade tem demonstrado, os investimentos em infraestrutura, a qualidade de vida, e a operação do pré-sal têm sido claramente vistos e notados mundo afora. Acreditamos que estas prospecções se confirmem em breve, num curto espaço de tempo (próximos cinco anos)”.

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