March 29, 2012

Voo cancelado!

Ricardo Galuppo - Publisher do Brasil Econômico

Uma nota publicada ontem na coluna Mosaico Político, de Pedro Venceslau, dá conta de que o problema do transporte aéreo no Brasil vai muito além da péssima condição dos aeroportos e dos atrasos frequentes por "excesso de tráfego aéreo".

E mostra que boa parte da responsabilidade pela péssima reputação da aviação comercial no país se deve a práticas administrativas pouco sérias por parte das próprias companhias.

Segundo a nota, um executivo chegou ao aeroporto de Brasília na última terça-feira com o check-in já feito para um voo que deveria decolar às 15h. Foi informado pelo pessoal da Tam que o voo havia sido cancelado e o horário seguinte, das 16h, já estava lotado.

Para resumir o drama, esse executivo só conseguiu sair de Brasília depois das 20h. A importância da nota, naturalmente, não é o drama pessoal desse executivo, mas a frequência indecente com que esse tipo de caso se repete.

À empresa, não interessa se os atingidos têm alguma reunião importante ou se, simplesmente, queriam chegar em casa mais cedo.

Escoradas pela organização ridícula do mercado aéreo brasileiro, as empresas não veem problema algum em simplesmente deixar de cumprir o contrato estabelecido com o passageiro no momento em que aceitou o dinheiro dele em troca de um bilhete.

Sim. Ao vender o bilhete, a empresa assume com o cliente o compromisso de tirá-lo de Brasília e levá-lo a São Paulo num determinado horário. Não cabe a ela (ou, pelo menos, não deveria caber) escolher em que momento deve cumprir sua parte no acordo.

Quem já passou por essa situação sabe que é inútil se queixar. Mesmo porque, em última instância, qualquer reclamação deve ser encaminhada a uma agência que é bem mais do que conivente com esse tipo de situação.

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) é, no mínimo, cúmplice desse tipo de atitude. Afinal de contas, é ela quem determina os horários de pouso e decolagem de cada voo comercial no Brasil.

Nesse momento - com o propósito evidente de impedir a expansão da concorrência -, as duas líderes do mercado, Tam e Gol, reivindicam e, na maioria dos casos, levam a maioria dos horários nos principais aeroportos.

Quando um voo tem pouca procura, a empresa simplesmente o cancela - normalmente sob a alegação de problemas técnicos nunca bem esclarecidos - e transferem os passageiros que escolheram aquele horário para o voo seguinte.

A falta de vergonha com os horários dos voos é tanta que, recentemente, a Anac determinou que as companhias aéreas informem aos passageiros, no ato da compra do bilhete, a média de atrasos na rota e no horário escolhidos.

Em qualquer país que leve a sério os direitos do consumidor, a autoridade reguladora exige que não haja atraso e pune a empresa que persistir na falta. No Brasil, a obrigação da empresa é única e tão somente a de assumir publicamente que ela atrasa mesmo e tudo o que o cliente pode fazer é se conformar com isso.

E depois, quando voltar a pressão pela extensão às empresas estrangeiras do direito de voar no mercado doméstico brasileiro, as empresas brasileiras vão se queixar. Com certeza, vão!

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Ricardo Galuppo é Publisher do Brasil Econômico

Fonte: Brasil Econômico - 29/3/2012

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