November 30, 2011

Uma oportunidade única para o BC

Joaquim Castanheira - Diretor de redação do Brasil Econômico

Caro leitor, leia com atenção a entrevista do executivo Otávio Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez. Em conversa exclusiva, publicada na edição de hoje do Brasil Econômico, Azevedo aborda dois aspectos aparentemente contraditórios da atual realidade brasileira.

De um lado, queixa-se, com toda a razão, dos juros vigentes no Brasil. "O Brasil não cresce mais, como a China ou a Índia, em virtude das elevadas taxas de juro", diz ele.

As taxas estratosféricas praticadas por aqui inibem o endividamento das empresas e, por tabela, investimentos mais agressivos em expansão - é bom lembrar que endividamento não é sinal de problemas, desde que esteja sob controle e coerente com a capacidade de pagamento da organização.

Passivo zero, se isso fosse possível, significa estagnação de uma companhia. Por outro lado, Azevedo fala com entusiasmo dos planos da Andrade Gutierrez para aproveitar o programa de privatização de Portugal e lista os ativos nos quais o grupo está de olho: EDP, da área de energia, TAP, a companhia aérea, Correios e por aí vai.

Mas, se os juros altos prejudicam tanto a atividade das empresas brasileiras, como elas têm recursos para correr atrás de negócios fora do país? De certa forma, uma coisa explica a outra. Com os limites impostos pelo custo excessivo do dinheiro no Brasil, as grandes corporações vasculham outros mercados na busca por novas oportunidades de negócios.

Além disso, os juros altos e a larga experiência acumulada com crises e mudanças bruscas de rumo na economia deram às companhias brasileiras capacidade de gestão e de adaptação a diferentes cenários - e, assim, as credenciaram para voos além do território nacional. Mais: os ativos no exterior estão "baratos" em função das turbulências na Europa e nos Estados Unidos.

Se é assim, imagine se tivéssemos juros em patamares decentes... Um estudo da Fiesp divulgado ontem dá uma ideia das perdas provocadas pelo descalabro das taxas que definem o custo do dinheiro no Brasil (leia a reportagem na edição de hoje do Brasil Econômico).

O clamor contra a política monetária do governo tem sido recorrente, mas poucas vezes houve um momento tão propício para a queda da taxa Selic como hoje. A crise na Europa se aprofunda, e não existem evidências de que os governos do continente saibam qual a saída viável para ela.

A economia dos Estados Unidos mantém-se em níveis anêmicos - não dá mostras de que mergulhará em recessão mais profunda, mas também não demonstra sinais de recuperação firme.

Embora o Brasil esteja numa situação privilegiada, se comparado aos países desenvolvidos, é necessário tomar medidas que assegurem a manutenção do crescimento econômico. Some-se isso tudo e chega-se à conclusão de que o Copom tem, a partir de hoje, uma oportunidade histórica de dar um empurrão decisivo no desenvolvimento do país. É só continuar baixando os juros.

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Joaquim Castanheira é diretor de redação do Brasil Econômico

Fonte: Brasil Econômico - 30/11/2011

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