Joaquim Castanheira - Diretor de redação do Brasil Econômico
Países europeus tomaram neste fim de semana uma decisão óbvia. Abriram os cofres para colocar bilhões de euros no Banco Dexia e, assim, evitar que ele fosse à bancarrota.
A Bélgica desembolsará € 4 bilhões e estatizou as operações da instituição no país. Além disso, o governo belga, com ajuda de seus colegas da França e de Luxemburgo, vai capitalizar o Dexia. A conta chegará a € 94 bilhões.
Diante dessa dinheirama, pergunta-se: como uma decisão dessas pode ser classificada de "relativamente óbvia"? Resposta: porque ela é a única possível.
Desde o dia 15 de setembro de 2008, uma regra não escrita, com poder de mandamento, diz que não se deixa um banco quebrar. Naquela data, o governo dos EUA, ainda sob o comando de George W. Bush, não mexeu um dedo para evitar o naufrágio do Lehman Brothers.
O que se viu nos dias seguintes foi um banho de sangue no mercado financeiro. O próprio governo americano e, depois, os europeus jogaram trilhões de dólares para salvar bancos e tentar, em vão, evitar uma recessão profunda em todo o mundo.
Se os europeus aprenderam com os americanos como evitar uma quebra dessas proporções, poderiam extrair lições da experiência brasileira, mais particularmente do Proer, o programa de socorro aos bancos criado pelo governo brasileiro em 1995.
Na ocasião, o Banco Nacional, da família Magalhães Pinto, entrou em dificuldades e foi incorporado pelo Unibanco, que recebeu uma montanha de dinheiro público para bancar a operação.
O Proer foi amaldiçoado por muita gente - afinal, custou US$ 20 bilhões à viúva. Evitou, porém, o chamado risco sistêmico que provocaria uma corrida dos brasileiros aos caixas dos bancos.
Essa parte, os líderes da Europa já entenderam, como demonstra o salvamento do Dexia. O que eles ainda precisam entender é que isso só não basta. No Brasil, ao mesmo tempo em que colocava dinheiro em bancos insolventes, o governo tomou medidas essenciais para obrigar os bancos a garantir a própria saúde financeira.
Apertou a fiscalização sobre o sistema. Adotou critérios de liquidez e controles mais conservadores do que os definidos pelo Acordo do Basileia e manteve a concessão de crédito sob um permanente garrote (às vezes, até com certo exagero).
Essa parte foi, até agora, ignorada tanto pela Europa como pelos Estados Unidos. Nas duas regiões, os bancos continuam sendo uma fonte constante de instabilidade e preocupação. Enquanto não mexerem com a estrutura do sistema financeiro, os governos da Europa e dos EUA terão que, de tempos em tempos, jogar uma boia de salvamento para instituições financeiras em perigo.
Nem os testes de estresse parecem capazes de verificar a solidez do sistema. Veterano em crises, o Brasil já aprendeu que o correto é debelar a infecção, e não tratar apenas de seus efeitos.
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Joaquim Castanheira é Diretor de Redação do Brasil Econômico
Fonte: Brasil Econômico - 11/10/2011