December 20, 2011

Tiro no próprio pé

Ricardo Galuppo - Publisher do Brasil Econômico

Greve é um instrumento legítimo em qualquer democracia e deve ser respeitada como direito do assalariado. Ponto. Mas não pode ser utilizada a torto e a direito, sobretudo em prejuízo de quem não tem responsabilidade pelos acordos entre patrões e empregados.

Isso parece óbvio. Muitas vezes, no entanto, a inadequação de determinados sindicatos é tão grande que as consequências da greve acabam se voltando contra quem a convocou.

Exemplos nesse sentido não faltam. Em 1990, quando o Brasil estava ávido por reformas modernizantes em sua economia, uma greve no porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, serviu para demonstrar o desatino daquela situação.

Protegidos por uma reserva de mercado que dava aos sindicatos da categoria o poder de escolher quantos e quem poderia trabalhar na descarga dos navios, os estivadores gaúchos convocaram uma paralisação fora de época.

O problema é que, àquela altura, o porto de Rio Grande já tinha um nível considerado de mecanização e a obrigação de contratar trabalhadores na quantidade imposta pelo sindicato acabava por ocultar os índices de eficiência. Durante a greve, o porto gastou muito menos tempo para carregar e descarregar cada navio.

E foi a prova de que aquela lei tinha que ser mudada, como acabou sendo alguns meses depois.

No mesmo ano, em Volta Redonda, o recém-nomeado presidente da CSN Roberto Procópio de Lima Netto resistiu à chantagem do sindicato e, em lugar de negociar, exigiu que fosse cumprida a ameaça dos grevistas de desligar o alto-forno da companhia.

É uma decisão complicada. Uma vez abafado, o forno perde seu revestimento interior e é necessário um longo processo antes que possa entrar em funcionamento novamente. Por essa razão, o desligamento do alto-forno era uma ameaça constante dos grevistas.

Naquele ano, a empresa não cedeu. E, mesmo diante do clima tenso desde que tropas do Exército (num abuso indesculpável da força) haviam matado três operários dois anos antes, a empresa mandou desligar o forno.

Resultado: a chantagem fracassou, a greve perdeu o sentido e a empresa pôde, finalmente, iniciar as transformações que levariam à sua privatização, três anos mais tarde.

São exemplos já distantes, relembrados em função da greve que os aeronautas e aeroviários insistem em convocar para depois de amanhã. Muitas vezes, o que parece ser o maior trunfo dos trabalhadores acaba se tornando seu calcanhar de aquiles.

Daqui a pouco mais de dois anos, haverá no país uma Copa do Mundo e as empresas, que estão sendo chantageadas por gente que espera a data mais movimentada do ano para decretar greve, certamente não pretendem chegar até lá reféns desse tipo de situação.

Caso a ameaça se cumpra e os sindicatos mantenham a greve de 24 horas convocada para as 23h do próximo dia 22, as empresas devem apressar as alternativas para evitar que o problema se repita. Soluções existem. Elas incluem a contratação de pilotos e comissários estrangeiros.

Incluem investimentos em tecnologia para estimular o check-in eletrônico. Incluem, enfim, uma série de providências que, diante da inércia do governo para melhorar os aeroportos, talvez se torne a única providência possível para evitar o caos aéreo nos próximos anos.

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Ricardo Galuppo é Publisher do Brasil Econômico

Fonte: Brasil Econômico - 20/12/2011

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