Joaquim Castanheira - Diretor de redação do Brasil Econômico
Foi por um triz. Na sexta-feira passada, o IBGE divulgou o índice oficial da inflação de 2011. O IPCA de 6,5% ficou exatamente (nem mais nem menos) no topo da meta estabelecida pelo governo.
Um suspiro de alívio correu a Esplanada dos Ministérios e o Palácio do Planalto. Afinal, caso a alta de preços superasse o teto de 6,5%, não faltariam vozes a se levantar contra a "irresponsabilidade fiscal", a "falta de independência do Banco Central" ou o "populismo desse governo".
As críticas viriam da oposição (e esse é o papel dela) e do mercado (seja lá o que isso significa). Pois bem, apesar da bola na trave em 2011, o Brasil não tem se saído mal na foto quando o assunto é inflação.
Se avaliarmos um intervalo mais longo, o país é o campeão do custo de vida baixo no âmbito do Mercosul.
Nos últimos dez anos, revela reportagem publicada na edição de hoje do Brasil Econômico, o Brasil acumulou inflação de 86,8%, contra 94,9% do Paraguai, segundo colocado.
No Uruguai, o índice foi superior a 125% e na Argentina, líder inconteste nesse quesito, os preços subiram 153%.
Muito bom, mas e daí? Daí que esse levantamento revela que, nos últimos anos, os sucessivos governos no âmbito federal têm, sim, tratado a questão monetária de forma responsável e correta.
A última vez em que a inflação superou a meta ocorreu em 2004, ou seja, sete anos atrás. Isso foi resultado de uma política consistente e transparente - e assim deve ser para que decisões do Banco Central não provoquem surpresa na economia como um todo e prejudiquem a capacidade de planejamento das empresas.
Neste primeiro ano de governo da presidente Dilma Rousseff houve uma mudança (importante, mas não brusca) na política monetária: a inflação deixou de ser a "mãe de todas as decisões" na política econômica, como acontecia antes. Perdeu seu papel hegemônico.
Agora, é vista como mais um ingrediente na gestão da economia - um ingrediente fundamental, mas não único.
Outros itens como o crescimento econômico e, por tabela, o nível de emprego passaram a ombrear com a alta dos preços nas discussões de órgãos como o Banco Central.
Esse ajuste de rota ficou claro nas últimas três reuniões do Copom, quando a taxa de juros básicos caiu 0,5 ponto percentual em cada uma delas. O objetivo é estimular a economia e blindá-la contra os efeitos da crise europeia.
Não houve nessa decisão do BC nada de temerário ou precipitado em relação ao controle da inflação, como chegaram a garantir fontes do "mercado" (mais uma vez: seja lá o que isso significa). Outros fatores, como o real valorizado e o próprio esfriamento da atividade industrial, serviram de contraponto à queda da Selic e o consequente estímulo ao crédito.
Nos últimos meses, houve uma clara desaceleração no aumento dos preços. Isso mostra que há ainda mais espaço para outras medidas de alento à economia sem riscos de se detonar um processo inflacionário.
Os resultados obtidos nos últimos dez anos dão ao governo federal uma credencial inquestionável para manter sua política monetária.
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Joaquim Castanheira é Diretor de Redação do Brasil Econômico
Fonte: Brasil Econômico - 9/1/2012