April 23, 2012

Inovar é preciso. E o design?

Rodrigo Carvalho - coordenador do Núcleo de Economia Criativa da ESPM-RJ

Acredito não ser mais preciso convencer ninguém que, na maioria das estruturas de mercado e dinâmicas de competição, a melhor estratégia empresarial é apostar em produtos, processos e serviços inovadores.

Sendo direto: inovar é preciso. Um simples exercício de leitura do noticiário nos permite acompanhar os fortes processos de reestruturação produtiva e mercadológica, que impactam profundamente os negócios.

Exemplos não faltam. Empresas que já foram líderes sucumbem às mudanças de comportamento dos consumidores e novos paradigmas tecnológicos, como foram os casos da Kodak e a Motorola Celular.

Afinal, o que essas empresas fizeram de errado? Elas erraram em seus modelos de negócios.

Elas centraram seus recursos na competição pelo desenvolvimento tecnológico, mas esqueceram de interpretar (ou comandar!) as mudanças de comportamento na sociedade, sobretudo nos hábitos de consumo que ditam/e são ditados por sucessivas inovações tecnológicas e organizacionais.

Vejamos o caso emblemático da Motorola Celular, outrora a empresa inovadora dos celulares, que (praticamente) inventou o mercado de telefonia celular nos anos de 1990.

A empresa não percebeu que o seu mecanismo de proteção ao teclado/tela passou a ser um problema, uma verdadeira barreira para o novo padrão que emergiu a partir da solução touch da Apple - que se tornou paradigma para a telefonia celular, ou qualquer dispositivo móvel.

A Apple construiu a sua liderança baseada na inovação. Mas, ao analisarmos a rede de valor do IPhone fica claro que não é o domínio da produção e da tecnologia a vantagem competitiva da empresa. É o seu modelo de negócios.

A empresa entende de tecnologia? Sim, claro. Mas é o entendimento sobre a cultura que a torna tão inovadora, e uma estratégia poderosa de gestão de marca e marketing que permitem sustentarem o seu posicionamento no mercado.

Defino a Apple como uma empresa de design e inovação. Ponto. Tecnologia é secundário.

A minha experiência na ESPM-RJ tem sido muito enriquecida pelo contato e interações incríveis com os professores da Faculdade de Design da Escola.

Esses profissionais carregam nos seus temas, conceitos e processos de ensino -aprendizagem as abordagens-chaves para a gestão da inovação nas organizações.

O entendimento de que qualquer produto, processo ou serviço deva ser, de fato, desenvolvido e testado inúmeras e contínuas vezes com os usuários/clientes. Simples assim.

Nesse sentido, nada mais rico do que incorporarmos esses conceitos e processos do design na definição dos modelos de negócios inovadores. Assim surgiu a disciplina do Design Thinking, que vem revolucionando a maneira como fazemos a reflexão estratégica dos negócios.

Torna-se cada vez mais importante entendermos os processos de aprendizagem e inovação das empresas de design, buscando compreender como são tomadas as decisões estratégicas.

Os primeiros resultados de uma pesquisa, ainda em campo, sinalizam que há importantes contribuições que a turma do design pode oferecer para o universo tradicional do ensino e prática da gestão de negócios.

A maneira como estabelecem grupos de trabalho, processos e rotinas de criação e inovação são importantes e inspiradores. Se inovar é preciso, o design é o ponto de partida.

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Rodrigo Carvalho é coordenador do Núcleo de Economia Criativa da ESPM-RJ

Fonte: Brasil Econômico - 23/4/2012

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