Joaquim Castanheira - Diretor de Redação do Brasil Econômico
A presidente Dilma Rousseff tem somado erros e acertos na condução da greve dos serviços públicos federais. Um dos equívocos, porém, provoca um desequilibro nessa balança de acertos e desacertos: a resistência do Planalto em estabelecer um claro canal de negociação.
Em vez disso, a presidente prefere manter um bate-boca estéril com os grevistas pela imprensa. Pior: aceita provocações (e faz outras tantas), cujo principal efeito tem sido colocar, com perdão do clichê, mais lenha na fogueira.
Dilma se queixa, com irritação e acerto, de que a paralisação traz incômodos aos brasileiros, inibe a atividade econômica e tem motivações políticas - e nisso ela está certa. Mas trata-se de uma constatação óbvia e de pouca utilidade. Afinal, qualquer movimento grevista possui sempre uma conotação política, em maior ou menor grau.
Na realidade, greves são em sua própria gênese manifestações políticas e não há como escapar disso. A presidente também ataca, com toda a razão, as terríveis consequências do movimento no dia-a-dia da economia e, sobretudo, na população.
O abastecimento de alguns produtos fundamentais, como alimentos e remédios, já está sendo prejudicado. A indústria de carnes contabiliza US$ 5 milhões de prejuízos diários, conforme reportagem publicada recentemente pelo Brasil Econômico.
Os aeroportos, já capengas em seu funcionamento sem greve, se tornaram mais caóticos ainda com a operação padrão dos funcionários da Receita Federal e da Polícia Federal.
Por tudo isso, Dilma endureceu e já deu recados claros de que negociações serão feitas diretamente com cada categoria dos funcionários. Conversas com a CUT estão aparentemente descartadas. Não poderia ser de outra maneira.
Se aceitasse uma interlocução única, fortaleceria o movimento e, pior, trataria coisas diferentes de forma igual. Existem desníveis gritantes entre as dezenas de atividades do serviço público federal.
De um lado, há fiscais da Receita Federal, em topo de carreira, com vencimentos mensais na casa dos R$ 20 mil. Em contrapartida, médicos em hospitais federais são obrigados a acumular estafantes jornadas de trabalho para compensar os baixos salários que recebem do serviço público. Não faz sentido, de fato, tentar administrar realidades diversas em um mesmo fórum.
Certo, mas quem são os interlocutores por parte do governo? Alguém sabe? É ministra do Planejamento e Gestão, Miriam Belchior? É o ministro-chefe da Secretária da Presidência da República, Gilberto Carvalho? Ou será Luiz Inácio Lula da Silva, a quem a presidente foi pedir conselhos e apoio quando sentiu que o movimento se alimentava com a indecisão do governo.
Ao definir esse ponto, a presidente poderá finalmente sair da linha de frente, evitando a troca de farpas dos últimos dias, algumas delas com alto potencial explosivo.
Embora os abusos da greve sejam evidentes, não há muito que fazer além de negociar - e, se a negociação se mostrar difícil, negociar ainda mais. Afinal, em momentos de crise política, vale a máxima: para defender a democracia, a melhor arma é mais democracia.
Joaquim Castanheira é diretor de redação do Brasil Econômico
Fonte: Brasil Econômico / 13/08/2012