February 22, 2012

A empresa 4G

Miguel Setas - Vice-presidente de distribuição e inovação da EDP no Brasil

Na semana passada, a Comissão Europeia recomendou aos governos dos países-membros que prolonguem o período da vida ativa dos cidadãos, devendo associar a idade de aposentadoria à respectiva esperança de vida.

Esta recomendação surge no contexto da resolução da atual crise financeira e da sustentabilidade do endividamento público, nomeadamente por causa de sistemas previdenciários desequilibrados.

Em países como a Suécia e a Alemanha já se considera a aposentadoria para lá dos 70 anos.

O problema hoje é que as pessoas estão vivendo cada vez mais tempo e estão se aposentando cada vez mais cedo. Adicionalmente, a grande geração de "baby boomers", que está agora se aposentando, geralmente com esquemas de benefício definido, está deixando elevados custos sociais para as gerações seguintes suportarem.

Portanto, o aumento da idade de aposentadoria parece inevitável para resolver a equação previdenciária.

Há duas falácias que surgem frequentemente quando se debate este tema. A primeira é que o prolongamento da idade de aposentadoria aumenta o desemprego dos jovens.

Estudos da OCDE, citados na última edição do jornal The Economist, demonstram precisamente o contrário.

Países que possuem menores taxas de desemprego em faixas etárias mais velhas também apresentam menor desemprego jovem. A segunda falácia é a de que a idade incapacita as pessoas de desenvolverem um trabalho produtivo.

Se assim fosse, Winston Churchill não teria sido um grande estadista aos 65 anos...

Esta realidade demográfica e social terá também um impacto relevante nas empresas.

Pela primeira vez na história teremos empresas onde vão coexistir quatro gerações sucessivas: "baby boomers" (nascidos de 1946 a 1964), "X" (de 1965 a 1980), "Y" ( entre 1981 e 1995) e "Z" (depois de 1995, e que começam a chegar às empresas daqui a 2-3 anos).

Poderemos chamar-lhe a "empresa 4G" (quatro gerações).

Esta nova empresa 4G será uma empresa a quatro dimensões humanas, que vai acentuar o choque de gerações.

Tanto vai albergar o jovem de 18 anos, que vive plugado na internet, como o sênior que desconhece os novos conceitos tecnológicos e que adere com alguma dificuldade à mudança dos tempos.

No entanto, desta sopa de letras poderá resultar uma mistura interessante e eficaz. Sabemos que a história da humanidade sempre progrediu com conflitos.

Esta nova empresa terá uma diversidade geracional que poderá ajudá-la a progredir: os "baby boomers" aportam bom senso e conhecimento; os X trazem pragmatismo e organização; os Y vêm com novos ideais e inovação, e os Z chegam com empreendedorismo e muita tecnologia.

Todos são importantes e complementam-se nas suas características.

No entanto, há que reescrever as velhas receitas de gestão de recursos humanos.

Terão de se readequar os planos de carreira, as políticas de remuneração, os sistemas de avaliação de desempenho, os modelos de desenvolvimento de competências, etc. No novo cenário, as velhas receitas não funcionam.

A tendência que está despontando nas economias mais maduras deverá chegar também, a seu tempo, aos mercados emergentes, como é o caso do Brasil.

Por isso, prepare-se para o "upgrade" da sua empresa. Está chegando o 4G!

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Miguel Setas é vice-presidente de distribuição e inovação da EDP no Brasil

Fonte: Brasil Econômico - 22/2/2012

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