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A Tribuna, 18/9/2012, terça-feira, páginas C-1 e C-2, Porto & Mar
O London Gateway tem a missão de dar um novo fôlego para a movimentação de mercadorias, com redução de tempo e de custos
LEOPOLDO FIGUEIREDO
Enviado especial a Londres
Os ingleses apostam em localização estratégica, logística diversificada e tecnologia de ponta para lançar seu novo porto de contêineres de águas profundas, London Gateway.
O empreendimento, em construção nas proximidades de Londres, a capital da Inglaterra e a maior cidade da Europa, representa um investimento de 1,5 bilhão de libras (quase R$ 5 bilhões).
Desenvolvido para se tornar um complexo marítimo concentrador de cargas, ele tem a missão de dar um novo fôlego para a movimentação de mercadorias nessa região, prometetendo tempo e custos operacionais reduzidos.
Tal expectativa garantiu até um apelido para o projeto, "The Game Changer" (expressão em inglês que pode ser traduzida como "visionário").
As obras de London Gateway e detalhes de suas instalações foram apresentados a empresários e autoridades do Porto de Santos na tarde de ontem.
Esta foi a primeira das visitas técnicas que eles vão fazer a portos da Inglaterra nesta semana, complementando a programação da 10.ª edição do Santos Export - Fórum Internacional para a Expansão do Porto de Santos.
O seminário, que ocorreu nos últimos dias 13 e 14 de agosto, em Guarujá, é uma iniciativa do Sistema A Tribuna de Comunicação e uma realização da Una Marketing de Eventos.
Com o início das operações previsto para o último trimestre do próximo ano, o complexo é um empreendimento da Dubai Ports World (DP World), estatal dos Emirados Árabes Unidos que se tornou a terceira maior operadora de terminais de contêineres do mundo nos últimos anos.
No Porto de Santos, a empresa é uma das acionistas do terminal Embraport, em implantação na Margem Esquerda do canal, entre as ilhas Barnabé e Diana, na Área Continental de Santos.
London Gateway está sendo construído em uma área de quatro quilômetros quadrados (Santos conta com 7,7 quilômetros quadrados) às margens do Rio Tâmisa (que corta Londres), no município de Stanford-le-Hope, a cerca de 40 quilômetros a sudeste da capital.
O local, aliás, é considerado um dos pontos mais estratégicos do projeto, destaca o diretor comercial de London Gateway, Charles Meaby, um dos executivos da companhia que recebeu a comitiva do Santos Export. "Seremos o porto mais próximo dos maiores mercados do Reino Unido, tanto da área urbana de Londres como das zonas produtoras. Em um raio de 80 quilômetros de nossas instalações, moram 15 milhões de pessoas. Mas não estaremos em áreas urbanas. Nossos acessos são livres. E (em relação às rotas de navegação) estamos no interior do triângulo dourado", destacou, referindo-se à área do Canal da Mancha e do Mar do Norte onde estão os principais complexos marítimos da Europa e alguns dos maiores do mundo, como Southampton, Felixstowe (ambos da Inglaterra), Le Havre (França), Antuérpia (Bélgica), Roterdã (Países Baixos) e Hamburgo (Alemanha).
Tal localização é essencial para um complexo que pretende se tornar o porto concentrador de cargas da Inglaterra (atualmente, quem mais se aproxima desse título é Felixstowe, líder na operação de contêineres no país), explica Meaby.
O diretor complementa que um dos primeiros reflexos de London Gateway será desafogar os terminais de Tilbury, que atualmente atendem a demanda da região de Londres e ficam do outro lado do Tâmisa, a poucos quilômetros a noroeste.
O novo complexo terá 2,7 quilômetros de cais, com 24 portêineres, uma profundidade de 17 metros em seus sete berços de atracação e 14,5 metros no canal de acesso no rio (as embarcações carregadas terão de sair na maré alta, que chega a apresentar uma variação de até seis metros).
Tal característica permitirá a vinda da próxima geração de navios conteineiros, que tem 400 metros de comprimento, é capaz de transportar entre 16 mil e 18 mil TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) e pede uma profundidade mínima de 15,5 metros.
Segundo Meaby, atualmente, estão sendo construídos o costado, o pátio de cargas e a retroárea. A dragagem dos berços também foi iniciada. No final do próximo ano, o primeiro berço entrará em operação. Seis meses depois, será a vez do segundo. E no final de 2014, o terceiro, somando 1,25 quilômetro de cais. "Nesse momento, nós vamos parar e analisar a demanda do mercado, se precisaremos continuar a instalação dos novos berços ou iremos esperar um pouco", explicou.
LONDON GATEWAY VAI OPERAR 3,5 MI DE TEUS
Novo porto inglês vai superar em 500 mil Teus a movimentação atual do Porto de Santos
LEOPOLDO FIGUEIREDO
Enviado especial a Londres
Quando totalmente implantado, London Gateway poderá movimentar cerca de 3,5 milhões de TEUs por ano - 500 mil a mais do que o Porto de Santos, o principal do Brasil, consegue hoje. O projeto prevê uma área de cais e pátio de cargas com um total de 1,76 quilômetros quadrados. Nessa região, as operações serão semi-automatizadas.
A colocação dos contêineres nos pátios será realizada com transtêineres (pórticos sobre trilhos) autônomos, que vão movimentá-los a partir da programação de armazenagem.
Haverá funcionários apenas no transporte entre o pátio e o cais. E isso apenas nos primeiros três anos, explicou o diretor comercial de London Gateway, Charles Meaby. "Vamos acompanhar o desenvolvimento dessa tecnologia. Acreditamos que, a partir do quarto ano, possamos retirar os funcionários do cais. Então (no porto), teremos empregados apenas na condução dos portêineres e nada mais. Seremos totalmente automatizados", disse o executivo. Tecnologia semelhante já é utilizada em portos de outros países da Europa (como Roterdã) e nos Estados Unidos.
A área portuária contará com acesso ferroviário. Além dos trilhos, na retroárea, será implantado um parque logístico com 2,27 quilômetros, o maior da Europa. A ideia da DP World é alugar a maior parte desse espaço para seus clientes, para que as cargas desembarcadas no complexo sejam beneficiadas no próprio local.
De acordo com o diretor comercial, pelo menos 15% dos contêineres que vão chegar a London Gateway devem ter como destino o parque logístico. O restante será escoado por trens ou caminhões.
Charles Moeby destaca que os sistemas logísticos do empreendimento são um de seus principais destaques. "Uma boa parte do planejamento do complexo envolveu seus sistemas logísticos. Como temos uma localização privilegiada, buscamos explorar as melhoras soluções, essenciais para reduzirmos nossos custos, tempo de operação e, assim, o impacto de nossas atividades no meio ambiente".
De acordo com o o diretor, 30% das cargas movimentadas devem chegar ou sair do porto por trem. O restante utilizará caminhões.
A DP World apresentou o projeto de London Gateway para o Governo do Reino Unido (formado pela Inglaterra, a Escócia, o País de Gales e a Irlanda do Norte) há 10 anos. Somente em 2008, as aprovações necessárias foram obtidas. Com a crise financeira daquele ano, o empreendimento foi retardado e suas obras tiveram início apenas em março de 2010.
A companhia é a proprietária de toda a área do complexo (que antes era ocupada por refinarias de petróleo). Como na maioria dos portos da Inglaterra, é a responsável pela infraestrutura e a superestrutura, além de ser a administradora (autoridade portuária) e a operadora das instalações. No país, a atuação do governo no setor portuário limita-se à fiscalização e à definição das políticas de desenvolvimento.
PROGRAMAÇÃO
A série de visitas técnicas e reuniões em portos da Inglaterra, da comitiva do Santos Export, prossegue até quinta-feira.
Amanhã, estão previstos encontros com Philip Grindrod, responsável pelo setor de políticas portuárias do Departamento de Transportes do Reino Unido, representantes da Sociedade das Indústrias Marítimas (SMI, na sigla em inglês), do Reino Unido, e o diretor-executivo do Grupo dos Maiores Portos do Reino Unido (UKMPG, associação que reúne as empresas operadoras dos principais complexos do país), Richard Bird.
Depois, será a vez dos executivos e das autoridades brasileiros apresentarem o cais santista.
GRUPO
A comitiva do Santos Export é formada por executivos de terminais de contêineres e granéis, operadores logísticos, prestadores de serviços para o setor e da Praticagem de Santos, diretores da Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e das Empresas Transportadoras de Contêineres (ABTTC), da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra), da Associação Comercial de Santos e da Associação das Empresas do Distrito Industrial e Portuário da Alemoa (AMA).
Entre as autoridades, estão o diretor comercial e de Desenvolvimento da Codesp, Carlos Kopittke, o presidente do Conselho de Autoridade Portuária (CAP) de Santos e secretário de Planejamento da Prefeitura de Santos, Bechara Abdalla Neves, e o secretário de Assuntos Portuários de Guarujá, Carlos Blaschi.
Também participam diretores do Sistema A Tribuna de Comunicação.
TÉCNICAS INÉDITAS AGILIZAM CONSTRUÇÃO
A construção de London Gateway, o novo porto de águas profundas da Inglaterra, envolve técnicas inéditas no país, que acabam agilizando o trabalho e reduzindo seus custos.
De acordo com o gerente sênior de Engenharia Portuária da instalação, David Lind, esses procedimentos puderam ser aplicados devido às características geológicas do terreno que receberá as instalações, às margens do Rio Tâmisa, a cerca de 40 quilômetros a sudeste de Londres, a capital.
A principal novidade nas obras do complexo está em seu cais. O costado (o muro do cais, que vai do piso até o fundo do berço de atracação) é construído a partir do aterro da área do canal de navegação onde ele ficará. Depois, o local onde ele será erguido nesse aterro é escavado e a estrutura é montada. Mais atrás, um novo muro, paralelo ao costado, é feito no subsolo.
A partir daí, a área entre essas duas estruturas é escavada e estacas horizontais são colocadas (elas ficam presas entre as duas muradas). Essas peças são importantes, pois, quandoa área após o costado é dragada para se abrir o berço de atracação, elas servem de apoio para que a estrutura não acabe ruindo.
Em Santos, as técnicas usadas são diferentes. Tradicionalmente, as estacas do costado são colocadas nos locais previstos no canal de navegação. Na sequência, a área interior (onde ficará o cais) começa a ser aterrada, enquanto a exterior (o berço) é dragada.
"Esta é a primeira vez que usamos essa técnica na Inglaterra. Não tenho informações de outra obra que tenha sido feita dessa forma. Foi uma estratégia interessante, pois permite uma economia de tempo e custos", explicou David Lind.
De acordo com o engenheiro, a técnica de construção do costado "na terra seca" só é possível em terrenos onde "o solo é duro". "Se fosse mais mole, como é o caso de Santos, por exemplo, tal procedimento não poderia ocorrer".
Outro detalhe destacado pelo executivo de London Gateway é que a terra extraída da dragagem dos berços e do canal de navegação está sendo utilizada nos aterros. Se tivesse de comprar esse material, os custos da obra, calculados em 400 milhões de libras (cerca de R$ 1,32 bilhão), teriam um aumento de 10% a 20%.