Júlio Gomes de Almeida - Professor da Unicamp e economista do IEDI
Um recente trabalho do professor Carlos Pacheco da Unicamp ("Uma Comparação entre a Agenda de Inovação da China e do Brasil") traz uma conclusão importante: falta ao Brasil, de fato, ampliar seu esforço de inovação, mas uma distinção relevante com relação à China reside no peso da indústria no PIB.
Se a participação da indústria brasileira fosse a mesma que a indústria chinesa tem no seu PIB, com a mesma intensidade do gasto em inovação que já fazemos, o investimento em P&D da nossa indústria seria de 0,73% do PIB, quase duas vezes maior do que de fato é, ou seja, 0,37% do PIB, segundo dados de 2008.
Na China, nesse mesmo ano, o investimento em P&D da indústria equivalia a 0,97% do PIB.
O maior esforço inovador da China reside, assim, na relevância que o modelo chinês atribui à indústria como alavanca de aproximação aos níveis de desenvolvimento de países mais avançados.
Outros pontos devem ser considerados, mas, em termos do esforço em P&D, três quartos da distância entre os dois países se explica pelo peso relativo da indústria.
E é notável que no último ano para o qual se dispõe de informações mais detalhadas para as atividades de inovação industrial, o ano de 2008, no segmento considerado de maior intensidade tecnológica as diferenças em termos de P&D entre as duas economias fossem ainda pequenas.
O estudo também ajuda a desfazer outros mitos sobre as estratégias de inovação. Primeiramente, o crescimento acelerado, tal como a China vem experimentando, cria oportunidades de novos negócios e potencializa o investimento.
E o novo investimento difunde produtividade e abre caminho para a incorporação de novas tecnologias. Em outras palavras, o dinamismo econômico ajuda na formação de um "ambiente favorável" à inovação, remodela culturas e comportamentos, confere maior atratividade aos investimentos de risco, conecta mais a economia com o mundo e premia o sucesso inovador na concorrência empresarial.
Em suma, o crescimento favorece o desenvolvimento de uma economia mais inovadora, o que, por sua vez, reforça e amplia as fronteiras do crescimento.
Em segundo lugar, se uma elevada escala de produção é combinada com fatores sistêmicos favorecedores da competitividade industrial - bons padrões de infraestrutura, custo de capital, tributação e câmbio -, os menores custos de produção daí resultantes aprofundam a capacidade exportadora, o que renova a busca por inovações como um diferencial de competitividade para o futuro.
Isso é verdadeiro na China, mas, salvo raras exceções, não no Brasil, aonde vem sendo esperado que a inovação compense diferenciais sistêmicos de competitividade muito acentuados, o que certamente não é possível.
A natureza sistemática e continuada do planejamento chinês e a enorme ênfase na capacitação em larga escala de recursos humanos na China comparativamente ao Brasil são fatores que deverão contribuir para que o fosso entre os dois se aprofunde na atual década.
Ademais, a inovação e o desenvolvimento tecnológico são, na China, um componente de uma estratégia nacional de desenvolvimento, enquanto no Brasil isso vem sendo verdadeiro para o agronegócio e a economia do petróleo, graças ao sucesso inovador da Embrapa e da Petrobras, mas não para a indústria.
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Julio Gomes de Almeida é professor da Unicamp e economista do IEDI
Fonte: Brasil Econômico - 10/11/2011