Costábile Nicoletta - Diretor Adjunto do Brasil Econômico
Em meados da década de 1990, Édson Vaz Musa, presidente da Rhodia no país, foi guindado à cúpula da Rhône-Poulenc, então uma companhia francesa estatal que controlava a subsidiária brasileira do setor químico e farmacêutico. Musa tivera muitos méritos para galgar essa posição.
Um deles foi tornar popular um grupo que atuava em áreas distantes do consumidor e melhorar significativamente a imagem de uma indústria com um passivo ambiental que a levaria à bancarrota se fosse descoberto nos dias de hoje.
Uma demonstração de sua importância na Rhône-Poulenc ficou patente quando Musa se transferiu para a matriz e fez seu sucessor no Brasil, colocando um brasileiro jovem e promissor em seu lugar, chamado José Carlos Grubisich, em vez de outros candidatos franceses. (Grubisich mais tarde se tornaria igualmente um membro da diretoria mundial da Rhône-Poulenc. Hoje, é um dos principais executivos do grupo Odebrecht.)
A atuação de Musa à frente da Rhodia o credenciava frequentemente a aparecer entre os possíveis ministros da área econômica dos vários governos que o Brasil teve desde a redemocratização, em 1985. Se houve mesmo o convite, ele nunca o aceitou. Talvez porque uma de suas características seja a franqueza.
Conta-se que numa das reuniões de diretoria da Rhône-Poulenc Musa fora incumbido de apresentar a lista de valores e princípios do conglomerado, uma das tolices que empresas de consultoria transformaram em moda no século passado.
"O que vocês acham?", indagou aos presentes. "Muito boa", seus pares responderam em uníssono. "Pois esqueçam dela, já que se trata dos valores e princípios de nosso principal concorrente", revelou Musa.
A marca Rhodia ficou tão mais conhecida que substituiu o nome Rhône-Poulenc. Mas, desde que Musa se aposentou, na segunda metade da década de 1990, coincidentemente ela perdeu notoriedade. Ontem, foi vendida para o grupo belga Solvay.
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Costábile Nicoletta é diretor adjunto do Brasil Econômico
Fonte: Brasil Econômico - 5/4/2011