February 20, 2013

Futuro exponencial: bioinformática

Miguel Setas - Vice-presidente da EDP no Brasil
  
Continuo com a série de artigos sobre as chamadas “tecnologias exponenciais”, que estão progredindo aceleradamente e que prometem revolucionar a economia mundial.

Nesta série de artigos comecei por abordar o tema na generalidade e já aprofundei a "robótica" e, na última semana, a "hipercomputação". Esta semana o destaque vai para a "biotecnologia", mais concretamente para a "bioinformática".

A última evolução que detectei sobre este domínio foi a confirmação definitiva e concreta de que "bio is the new cyber"! A notícia a que me refiro dava conta do trabalho do Instituto Europeu de Bioinformática, no Reino Unido, e da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, na utilização de ADN [DNA] como suporte de informação.

Imagine-se que estes cientistas já conseguiram colocar livros, imagens e músicas codificados em biomoléculas de ADN sintético. Pois é, pasme-se que é verdade.

Os cientistas estimam que este armazenamento biológico será competitivo daqui a algumas décadas, altura em que deixaremos de utilizar a tradicional "pen" ou o "disco rígido" para gravar arquivos digitais e poderemos registrar toda a informação num suporte de ADN sintetizado.

Uma das vantagens do ADN como suporte de informação é que é extremamente compacto. Estima-se que 1 grama de ADN possa armazenar 2,2 petabytes (1 petabyte são 1.000 terabytes) de informação. A densidade de armazenamento em ADN é pelo menos mil vezes maior do que a dos outros meios existentes.

A outra grande vantagem é que as células de ADN, quando preservadas, podem durar milhares de anos, como tem sido demonstrado pela reconstrução de ADN que é possível a partir de tecidos fossilizados de animais extintos.

Estes avanços impressionantes foram viabilizados pelo passo de gigante que constituiu o sequenciamento do genoma humano e a progressiva redução do respectivo custo. Há 10 anos o sequenciamento do genoma humano custava na ordem de US$ 1 bilhão, hoje custa cerca de US$ 1 mil e estima-se que em 2020 poderá custar menos do que US$ 1.

Os desenvolvimentos da genética têm-se cruzado com muitas outras áreas científicas, que prometem revolucionar a nossa vivência. A título de exemplo destaco a chamada "pharmacogenomics", que cruza a genética com a farmácia para identificar princípios químicos ativos adequados para atuar sobre a predisposição genética para determinadas doenças.

Outra área interessante é a designada "nutragenomics", que define os nutrientes adequados em função de cada genoma. Ainda outro exemplo de aplicação da genética é a chamada "optogenetics", uma técnica de neuromodulação, que usa princípios da ótica e da genética para controlar e estimular a atividade neuronal em tecidos vivos.

Diria que é a versão moderna do NeuroMarketing... Tal como os nossos avós não reconheceriam o mundo em que vivemos hoje, suspeito que nós não vamos reconhecer o mundo em que os nossos filhos viverão. As implicações éticas e morais são profundas e os limites legais e regulatórios são ainda difusos. Fique esperto!

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Miguel Setas é vice-presidente da EDP no Brasil

 

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