Fonte: IG / 31/10/2013
Decisão foi influenciada pelo impacto da disputa fiscal em Washington na economia
O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, estendeu nesta quarta-feira (30) seu apoio à lenta economia americana afirmando que continuará comprando US$ 85 bilhões em títulos ao mês por enquanto.
Ao anunciar a decisão amplamente esperada, integrantes do Fed ressaltaram a perspectiva de crescimento mais fraco devido em parte à disputa fiscal em Washington que paralisou boa parte do governo por 16 dias neste mês. A alta nos custos de financiamento diante de sinais do banco central anteriormente de que poderia começar em breve a reduzir o estímulo monetário também prejudicou o crescimento.
"Os dados disponíveis sugerem que o consumo das famílias e o investimento fixo das empresas avançou, enquanto a recuperação no setor imobiliário teve certa desaceleração nos últimos meses", informou o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed.
"A política fiscal está restringindo o crescimento econômico", continuou.
O mercado de trabalho mostrou "alguma" melhora, informou o Fed, apesar de recente enfraquecimento nos dados. A autoridade monetária retirou a referência ao "aperto das condições financeiras observado nos últimos meses" da lista de riscos à perspectiva.
A presidente do Fed de Kansas City, Esther George, votou contra a decisão, como fez em todas as reuniões do Fomc neste ano, favorecendo corte modesto no ritmo de compra de títulos.
O Fed chocou os mercados financeiros no mês passado ao optar pela não redução das aquisições de bônus, após permitir que a percepção de que estaria pronto para começar a cortar o estímulo fortaleceu-se ao longo do verão no hemisfério Norte. Desde então, a cautela mostrou-se justificada.
A confiança do consumidor e do setor empresarial tem sido pressionada pela disputa política que desencadeou na paralisação do governo e empurrou o país às margens de um possivelmente devastador default (calote), e uma série de dados econômicos têm apontado para fraqueza econômica.
Relatórios divulgados nesta quarta-feira (30) mostraram que empregadores do setor privado americano contrataram o menor número de funcionários em seis meses em outubro, enquanto a inflação continuou contida no mês passado.
Outros dados recentes sobre o mercado de trabalho, sobre a produção industrial e sobre as vendas de moradias em setembro já haviam sugerido que a economia perdeu força mesmo antes da paralisação do governo. Leituras de confiança do consumidor neste mês têm mostrado que o impasse fiscal afetou as famílias.
O tom fraco dos dados levou os mercados a recalibrarem projeções para a redução nas compras de títulos e levou as expectativas de alta dos juros de volta em meados de 2015, pelo menos.
Antes da divulgação do comunicado do Fomc, os mercados futuros indicavam chance de 52% de que a primeira alta de 0,25 ponto percentual nos juros básicos até abril de 2015. A probabilidade subia para 96% até setembro de 2015. Os rendimentos das notas de 10 anos do Tesouro dos EUA recuaram de volta a 2,50%, ante quase 3% no início de setembro.
Em reação à mais profunda recessão e à mais fraca recuperação em gerações, o banco central americano cortou os juros para quase zero e mais do que quadruplicou seu balanço patrimonial para US$ 3,8 trilhões.
A reação foi controversa, com alguns dos integrantes mais linha dura do Fed e muitos republicanos argumentando que há risco de inflação desenfreada ou bolhas nos mercados financeiros.
No entanto, o núcleo do Fed, incluindo o chairman Ben Bernanke e sua sucessora e a atual vice-chair, Janet Yellen, já argumentaram que a ameaça de desemprego persistentemente alto é a questão mais urgente atualmente.
Dados desta quarta-feira (30) mostraram que a inflação ao consumidor ficou em apenas 1,2% no ano até setembro, bem abaixo da meta de 2% do banco central.