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A Tribuna, 20/9/2012, quinta-feira, página C-6, Porto & Mar
# Apesar de ainda sentir os reflexos da crise financeira, o porto inglês vai investir R$ 500 mi para atender a nova geração de conteineiros
LEOPOLDO FIGUEIREDO
Enviado especial a Londres
Os reflexos da crise financeira internacional ainda são percebidos no Porto de Southampton, o mais eficiente complexo marítimo do Reino Unido na movimentação de contêineres e o segundo em volume nesse tipo de operação.
Mas isso não o impede de investir em sua infraestrutura, a fim de se preparar para receber a nova geração de navios conteineiros, a dos Ultra Large Container Ships (ULCS, na sigla em inglês para navios de contêineres ultragrandes), capazes de transportar 16 mil TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés).
A partir do próximo ano cerca de 150 milhões de libras (quase R$ 500 milhões) devem ser aplicadas para ue o porto possa atender esses cargueiros.
As principais operações de Southampton - localizado a 126 quilômetros a sudoeste da capital do país, Londres - e seus planos de expansão foram conhecidos ontem por empresários e autoridades do Porto de Santos que realizam uma série de visitas técnicas aos complexos ingleses.
Essas atividades complementam a programação da 10.ª edição do Santos Export - Fórum Internacional para Expansão do Porto de Santos.
O seminário, uma iniciativa do Sistema A Tribuna de Comunicação e uma realização da Una Marketing de Eventos, ocorreu nos últimos dias 12 e 13 de agosto, em Guarujá.
Líder no movimento de navios de passageiros e no embarque e desembarque de carros no Reino Unido, Southampton conta com apenas um terminal de contêiner. A instalação é administrada pela Dubai Ports (DP) World, estatal dos Emirados Árabes Unidos que é a terceira maior operadora de terminais de contêineres do mundo. A companhia tem 51% das ações da unidade. O restante é de propriedade da Associated British Ports (ABP), responsável pela gestão de 21 complexos, entre eles, Southampton.
O projeto de expansão do terminal envolve duas ações principais. A primeira é a ampliação de seu cais, atualmente com 1,3 quilômetro de extensão. Essa dimensão permite a atracação simultânea de quatro conteineiros Post Panamax Plus, que têm 335 metros de comprimento, em média, e são capazes de carregar cerca de 8 mil TEUs. Este é o maior tipo de navio a escalar hoje no complexo.
Ontem, durante a visita da comitiva do Santos Export, uma embarcação como essa, a Vienna Express, estava em um dos berços da empresa.
Como as armadoras que utilizam a instalação anunciaram que vão trazer para Southampton, a partir de 2014, navios do tipo ULCS, que têm 440 metros de comprimento, a DP World e a ABP decidiram aumentar a linha do costado em 500 metros, para 1,8 quilômetro. Dessa forma, será mantida a capacidade para receber quatro navios.
Esse novo trecho de cais terá uma profundidade de 16 metros, suficiente para receber os cargueiros, com 15,5 metros de calado. Atualmente, os berços do terminal representam 14 metros de profundidade.
OBRAS
Os trabalhos de ampliação da infraestrutura devem começar no próximo ano, de acordo com os técnicos da DP World que recepcionam o grupo do Porto de Santos.
O projeto de expansão do terminal também prevê a compra de cinco portêineres, específicos para a operação de navios ULCS (com lanças maiores). A aquisição deve ser fechada ainda este ano e os equipamentos devem ser entregues no segundo semestre de 2013. Hoje, a instalação conta com 12 portêineres, seis deles para navios post-panamax.
De acordo com a DP World, o projeto ampliará a capacidade operacional de Southampton para 2,8 milhões de TEUs por ano. O percentual atual não foi revelado. Mas a unidade chegou a embarcar ou desembarcar um volume de 1,7 milhão de TEUs em 2007, antes da atual crise financeira, que lançou a economia mundial e o comércio internacional em uma recessão. Seus efeitos ainda são sentidos na movimentação de cargas do terminal, que escoou 1,5 milhão de TEUs no ano passado.
No Reino Unido, o principal porto em movimentação de contêineres é Felixstowe, na costa oeste da Inglaterra. No último ano, o complexo carregou ou descarregou 3,5 milhões de TEUs. Cada navio que atraca em suas instalações embarca ou desembarca 5 mil TEUs, em méida. Em Southampton, o segundo maior complexo nesse tipo de operação, são 3 mil TEUs em cada escala.
O porto do Sul da Inglaterra se destaca ainda por sua eficiência. O terminal operado pela DP World registra entre 26 e 28 movimentos por hora na operação de navios.
Em 2011, Santos atingiu a marca de 2,98 milhões de TEUs. Com seu atual projeto de ampliação da profundidade do canal de navegação para 15 metros, ele poderá receber navios de até 9 mil TEUs.
CRUZEIROS
Ontem, a comitiva do Santos Export ainda conheceu outros terminais de Southampton, como o de grãos, os de movimentação de veículos (são embarcados ou desembarcados mais de 650 mil por ano) e os de passageiros.
O complexo conta com instalações para a atracação de navios de cruzeiros. No ano passado, passaram por elas 1 milhão de turistas, quantidade semelhante à de Santos na última temporada. Neste ano, a estimativa é chegar a 1,5 milhão de passageiros.
O porto é um dos mais tradicionais complexos marítimos do Reino Unido para a atracação de embarcações de cruzeiro. Foi dele que, em 10 de abril de 1912, zarpou o Titanic para sua trágica viagem. Ontem, durante a visita a Southampton, os empresários e autoridades de Santos conheceram o local exato onde navio tinha atracado há 100 anos. Foi no atual berço 44, em frente ao terminal de passageiros Ocean.
O Titanic naufragou quatro dias depois, após colidir com um iceberg no Atlântico Norte.
PROGRAMAÇÃO
A série de visitas técnicas e reuniões em portos da Inglaterra, da comitiva do Santos Export, termina hoje.
Estão programadas uma visita à sede da Lloyds Security, secular empresa de seguros com atuação nos setores de navegação e portuário, e uma reunião com o embaixador brasileiro em Londres, Rodrigo Azeredo, na Embaixada do Brasil.
Esta é a oitava missão técnica realizada pelo Santos Export, que, desde 2005, promove visitas a complexos marítimos de destaque no cenário internacional.