September 21, 2012

Plano de concessões portuário desperta interesse britânico - A Tribuna - 21/9/2012

Investidores e executivos do Reino Unido têm questionado a embaixada sobre o pacote de medidas brasileiro

LEOPOLDO FIGUEIREDO
Enviado especial a Londres

O pacote de medidas que o Governo do Brasil prepara para impulsionar o investimento em seus portos não é aguardado com expectativa apenas entre os empresários do País. O projeto em estudo no Palácio do Planalto desperta o interesse também de investidores e executivos do setor no Reino Unido, o segundo maior mercado portuário da Europa, revelou o ministro-conselheiro da Embaixada do Brasil em Londres, Rodrigo de Azeredo Santos, responsável pelas áreas de comércio, investimento, ciência e tecnologia da unidade do Itamaraty.

O diplomata deu entrevista a A Tribuna na tarde de ontem, após se reunir com empresários e autoridades do Porto de Santos na nova sede da Embaixada do Brasil em Londres, na Cockspur Street, a uma quadra da Trafalgar Square.

O encontro encerrou a série de visitas técnicas que o grupo brasileiro realizou a portos da Inglaterra. As atividades, iniciadas na última segunda-feira, complementam a programação da 10ª edição do Santos Export - Fórum Internacional para a Expansão do Porto de Santos. O seminário, ocorrido nos dias 13 e 14 de agosto passados, em Guarujá, foi uma iniciativa do Sistema A Tribuna de Comunicação e uma realização da Una Marketing de Eventos.

Em análise há mais de dois meses, as medidas para atrair investimentos aos portos brasileiros devem ser anunciadas pela presidente Dilma Rousseff até o início de outubro. Entre as ações esperadas, estão mudanças no marco regulatório do setor, a fim de permitir uma maior participação da iniciativa privada na gestão dos complexos marítimos e fluviais - e, consequentemente, reduzir a burocracia estatal nessa área e garantir uma maior celeridade na implantação de projetos.

Segundo Rodrigo de Azeredo Santos, diante da expectativa pelo anúncio do pacote, empresários britânicos o têm questionado especialmente sobre o que ocorrerá com as áreas arrendadas nos portos. "É certo que haverá a continuidade dos contratos. O que vemos em todos os setores (que tiveram suas legislações alteradas para facilitar investimentos), como o de petróleo e gás e o aeroportuário, é que o Governo sempre respeitou tudo o que havia sido feito até então. As mudanças que virão, com certeza, serão para melhor, para facilitar os investimentos nos portos. Os debates (no Palácio do Planalto, para definir o pacote de medidas) têm sido longos. Os empresários têm sido escutados. E isso é bom, pois é um sinal de que as coisas estão sendo levadas com muita seriedade".

Outra preocupação da iniciativa privada britânica é se o Brasil terá recursos humanos para realizar os investimentos necessários, tanto nos portos como nos demais empreendimentos de infraestrutura.

O diplomata explicou que a Inglaterra tem "um grande expertise" em tecnologia de informação e ciências do mar, que pode ser aproveitado no treinamento dos profissionais que vão atuar nas obras brasileiras.

Para Azeredo, o interesse do Reino Unido pelo Brasil não é surpresa. "Alguém aqui (na reunião com a comitiva do Santos Export) disse que o Brasil hoje está na vitrine e isso é verdade. Entre os Bric (os países emergentes Brasil, Rússia, Índia e China, cujas iniciais dos nomes formam a sigla), é o país com o ambiente de negócios mais parecido com o da Europa e dos Estados Unidos. Eles (empresários e investidores britânicos) compreendem que uma reforma está sendo debatida e, assim como os empresários brasileiros, estão preocupados.

Essa reforma afeta tanto os empresários brasileiros como os estrangeiros. O importante é mostrar que não há nenhuma diferenciação entre eles. Os dois são muito bem-vindos do ponto de vista do governo", assegurou.

LIÇÕES

Durante o encontro na tarde de ontem, o ministro-conselheiro destacou que o Brasil pode aprender muito com o Reino Unido no setor portuário, tanto com seus acertos como com os erros. "O modelo portuário inglês não pode ser inteiramente transportado para o Brasil, mas há lições, especialmente quando se analisa o modelo de gestão adotado, que podemos aproveitar. Ele tem suas vantagens e suas desvantagens, mas sem dúvida nenhuma, é um ponto muito importante".

No Reino Unido, tanto a operação como a administração portuárias são privatizadas. Ao governo, cabe fiscalizar e regulamentar o setor, definindo sua política de desenvolvimento. No Brasil, apenas a operação foi repassada à iniciativa privada. As demais funções continuam nas mãos do poder público.

Neste cenário, os portos da Inglaterra operam em um ambiente de maior concorrência, disse Rodrigo de Azeredo dos Santos. "Com uma liberdade maior (devido à privatização e à menor interferência do governo), a tendência é atrair mais investimento para os portos e você ter uma competição maior. E isso pode levar a uma maior oferta de serviços", explicou.

Citando a liberdade do setor, o diplomata apontou o que considera a principal desvantagem do modelo de gestão dos complexos ingleses. "O ponto negativo é a maneira como isso (a menor interferência do governo) é feito. Há algumas críticas aqui de que a supervisão (pública) não é feita de forma suficiente e haveria um custo elevado das tarifas portuárias. Existe um órgão regulador, mas as empresas têm muita liberdade na colocação das tarifas dos serviços que prestam".

Na reunião com a comitiva do Santos Export, Azeredo questionou os integrantes do grupo sobre os resultados da viagem. Os participantes citaram a importância das visitas ao Porto de Southampton, na costa sul do país, e às obras do Porto de London Gateway, que está sendo erguido às margens do Tâmisa, o rio que corta Londres. Também falaram sobre sua preocupação com o pacote de medidas do Governo do Brasil para o setor portuário e a expectativa quanto às possíveis mudanças na gestão dos complexos de carga.

Durante a manhã, o grupo brasileiro se reuniu com executivos do Lloyd's, o maior mercado de seguros do Reino Unido. O encontro ocorreu na sede da corporação, prédio que é considerado um dos marcos de The City, região onde fica o centro financeiro de Londres. Os representantes do Lloyd' s destacaram seu interesse pelo setor de infraestrutura do Brasil, especialmente o portuário. Eles querem aproveitar a atual fase de expansão da economia brasileira e atuar com seguradoras do país para atender terminais, navios, rodovias e ferrovias.

INTERNACIONAL

Esta foi a oitava missão técnica realizada pelo Santos Export, que anualmente, desde 2005, promove visitas a complexos marítimos de destaque no cenário internacional. As delegações do seminário já foram recebidas em portos da Holanda, da França, da Itália, da Espanha, da Alemanha, da Dinamarca, dos Estados Unidos, do Canadá, do Panamá e, no último ano, da China. A programação desta edição foi organizada em parceria com o Ministério de Comércio e Investimento do Reino Unido (UKTI, na sigla em inglês).

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