Guilherme Abdalla - Advogado, mestre em filosofia e teoria geral do direito pela Universidade de São Paulo (USP)
A crise na Europa, o pibinhol local, a manutenção do ritmo de crescimento, nada disso preocupa tanto quanto nossa obrigação inevitável de enfrentar, cedo ou tarde, os limites do planeta.
Para o economista André Lara Resende, um dos pais do Plano Real, não há saída para a economia mundial em crise se teimarmos em adotar as receitas clássicas, como o aprofundamento da austeridade fiscal ou a promoção do aumento do consumo para gerar crescimento.
Não que a economia de mercado, como a conhecemos, desaparecerá, mas o mundo precisa, sim, de ajustes e talvez o primeiro deles seja exatamente no sistema que foi eficiente por décadas: o de preços competitivos.
Atualmente, o preço de um produto é, a grosso modo, determinado pelo equilíbrio - ou desequilíbrio - entre a oferta e a demanda. Mas só isso já não basta.
Para Eduardo Giannetti da Fonseca, por exemplo, pode-se pensar num pagamento compensatório pelo mal ou dano ambiental causado pelo produto/empresa no decorrer do processo produtivo ou, por assim dizer, um tributo ambiental.
Esse ônus encareceria o produto de natureza não sustentável e promoveria a competição mais isonômica em benefício dos produtos sustentáveis. Noutros dizeres, assumiríamos de uma vez por todas a responsabilidade social como um elo da cadeia produtiva.
Desde os anos 90, desenvolver a cultura sócio-ambiental tornou-se obrigatório para as empresas que querem se manter competitivas. É uma demanda do próprio mercado.
Talvez seja o momento de darmos um passo adiante. Afinal, os governos, pelo mundo inteiro, já não conseguem atender sozinhos - ou mesmo se entender entre eles - às demandas econômicas, sociais, políticas e ambientais da população. Ao menos ao mesmo tempo.
As companhias, por sua vez, usualmente não conseguem acertar a mão. E por que erram tanto? Uma das grandes pedras no caminho para a adoção de medidas transformadoras parece ser a exigência do retorno rápido. Se possível, acompanhado de grande visibilidade.
Esse foco midiático acaba por transformar a medida social em mais um recurso de marketing, deixando de preencher um conceito mais definido e pragmático de atuação. É difícil mudar o hábito de um sistema, assim como é complicado separar o empresário do cidadão.
Muitos dos executivos hoje à frente de empresas substanciais foram educados para gerar lucro, subtrair despesa de receita e pensar sempre nas medidas mais rentáveis. Acabam, pois, não enxergando que itens da coluna dos custos podem decerto passar para a coluna de investimentos.
É evidente que o lucro deve ser uma das principais peças da engrenagem privada. Ele é parte essencial do desenvolvimento sustentável. No entanto, já não é razoável pressupor uma empresa sadia dependente de um mercado miserável e sem perspectivas de progressão. Incentivemos, pois, as companhias que praticam a responsabilidade social. O custo ambiental merece fazer parte da equação preço-oferta-demanda.
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Guilherme Abdalla é advogado, mestre em filosofia e teoria geral do direito pela Universidade de São Paulo (USP)
Fonte: Brasil Econômico - 8/3/2013