January 15, 2013

Passe férias no futuro

Marcelo Nakagawa - Professor e coordenador do Centro de Empreendedorismo do Insper

Pessoas normais tiram férias do passado, empreendedores tiram férias no futuro. Pessoas normais pensam em algo como “Ufa... a partir de amanhã estarei de férias e não precisarei vir trabalhar”.

Passadas as férias, pessoas normais voltam ao passado. Quase sempre dizem que estão com as "baterias recarregadas". Mas as empreendedoras, passadas as férias, ficam no futuro. Voltam das férias cheias de ideias, planos e um brilho diferente nos olhos.

Não à toa, Walt Disney chamava suas férias de "viagens de descobertas" e até repreendia quem perguntava sobre suas "férias". "Estava trabalhando" - dizia. Sempre que fazia suas viagens de descobertas, levava junto suas câmeras. Filmava e fotograva tudo.

O futuro das suas "férias" no Brasil em 1941, por exemplo, foi o Zé Carioca e os filmes Alô Amigos e Você já foi à Bahia, lançados respectivamente em 1942 e 1944.

Poucos anos depois, outro empreendedor tirou suas férias no futuro. Em 1951, Kemmons Wilson era um empreiteiro na cidade de Memphis quando decidiu tirar férias e levar sua família até Washington de carro. Quase 1.400 km de estrada, algo como ir do Rio de Janeiro a Goiânia.

Na estrada ia bem, mas as paradas nos hotéis eram um pesadelo. Sempre havia uma surpresa desagradável. Sujeira, algo que não funcionava e cobranças adicionais. Dezessete dólares adicionais por criança, em valores atuais. Ele tinha cinco filhos! Mas não havia camas para todos e sempre alguém dormia no chão.

Oito dólares, acreditem, pelo uso da chave do quarto e outros oito dólares pelo uso da televisão. Algo que era anunciado por 70 dólares a diária, podia sair por 160 no dia seguinte.

A ideia de construir uma rede de hotéis "sem surpresas" com quartos padronizados, estadia gratuita para crianças com menos de 12 anos, televisão, frigobar, telefone e Bíblia na gaveta nasceu ainda durante as férias. Não teve dúvidas: Quando retornou à cidade do Elvis, fundou a Holiday Inn.

Ruth Handler, junto com seu marido, já tinham fundado uma empresa bem-sucedida que fabricava utensílios domésticos de plástico nos anos de 1930 nos Estados Unidos, que depois expandiram para a fabricação de brinquedos. Mas o futuro chegaria para Ruth nas férias de 1956.

Ela já havia notado que sua filha Barbara preferia brincar com bonecas de papel que remetiam a figuras de mulheres adultas em detrimento àquelas de figuras infantis. Mas ela só viu o futuro daquilo quando passeava pelas ruas da cidade suíça de Lucerna e notou uma boneca de corpo, traços e roupas adultas. Não teve dúvidas: Comprou a boneca e nascia ali a boneca Barbie, o apelido carinhoso da sua filha.

E Sam Walton, também sempre adepto das viagens de descobertas. Em 1984, quando ainda era o homem mais rico do mundo, veio ao Rio de Janeiro. Como qualquer caipira do interior (neste caso de Bentoville, Arkansas) ficou deslumbrado com o mar e as praias, mas só tirou fotos de lojas, estacionamentos, prateleiras, produtos do... Carrefour. Ficou deslumbrado com o conceito de hipermercado.

Sam tinha ficado bilionário com sua rede de supermercados Wal-Mart, mas viu que o futuro seria de grandes lojas como aquelas da rede francesa iluminadas pelo sol carioca. Não teve dúvidas: voltou para os Estados Unidos e lançou seus Supercenters, que, hoje, é o modelo-padrão da empresa.

Assim, da próxima vez que for tirar férias, não tenha dúvidas: passe as suas férias no futuro!

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Marcelo Nakagawa é professor e coordenador do Centro de Empreendedorismo do Insper

Fonte: Brasil Econômico - 15/1/2013

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