Octávio Costa - Editor-chefe do Brasil Econômico (RJ)
É uma péssima notícia para o comércio exterior. Maior comercializador chinês de soja, o grupo Sunrise cancelou a encomenda de 2 milhões de toneladas de soja por causa do atraso no embarque provocado pelo congestionamento nos portos.
Segundo a agência Reuters, a empresa está prestes a suspender a operação de 10 a 12 navios de 60 mil toneladas que deveriam ter transportado a mercadoria entre janeiro e fevereiro.
Como até agora só dois navios chegaram à China, a Sunrise adverte que "é um default não embarcar no prazo". E estende a ameaça a embarques previstos para abril e junho.
Os exportadores brasileiros sabem de suas obrigações, mas não têm muito que fazer. O congestionamento dos portos é um problema crônico. Vem de longe e espera soluções há décadas.
Segundo especialistas, os navios no porto de Paranaguá chegam a esperar 60 dias para embarcar a soja. Nossos portos, em sua maioria, são ultrapassados.
A administração cabe ao sistema Docas, um ente híbrido federal e estadual, que sofre de todos os males do setor público, como empreguismo e competências pouco definidas.
Houve avanços tecnológicos, mas os sindicatos defendem com unhas e dentes empregos que já não se justificam em terminais modernos da Europa e dos Estados Unidos.
Na teoria conspirativa, há quem diga que os chineses ameaçam com o cancelamento de contratos apenas para pagar menos pela soja. Nessa mesma linha de raciocínio, seria importante perguntar por que os dirigentes ligados à Força Sindical são contrários à MP dos Portos que pretende modernizar o setor.
Os sindicalistas também teriam interesse na queda dos preços dos produtos brasileiros? Seriam agentes infiltrados pelos importadores estrangeiros? Ou, a exemplo dos ludistas nos primórdios da Revolução Industrial, eles são contra todo e qualquer avanço tecnológico que reduza os postos de trabalho?
Num mundo em crise, a manutenção do nível de emprego tem contribuído para o crescimento do país. Mas as negociações dos sindicatos não podem ter o objetivo de emperrar a modernização dos portos.
Com terminais obsoletos e decadentes (e estradas em péssimo estado), o Brasil corre o risco de perder mercados. A lei do comércio exterior não perdoa: se um contrato é descumprido, o importador tratará de procurar outro fornecedor em outro país e tão cedo não realizará negócio com o parceiro anterior.
No passado, houve problemas graves com exportadores inescrupulosos. Mas nossas empresas evoluíram e são respeitadas pelos clientes internacionais. Hoje, o problema não é a qualidade do produto, e sim o gargalo logístico.
Não há tempo a perder com a MP dos Portos. As negociações se afunilaram e o governo fez as concessões possíveis. Concordou, por exemplo, em ampliar os direitos dos trabalhadores temporários, convocados nos picos de movimento.
Chegou a hora de aprovar o projeto e elaborar os editais de privatização dos terminais. Quanto mais se arrastar o cronograma de modernização dos portos, maior será o prejuízo para a economia.
Octávio Costa é editor-chefe do Brasil Econômico (RJ)
Fonte: Brasil Econômico / 21/3/2013