February 08, 2013

O cerco se fecha sobre o Fed

Paulo Rabello de Castro - Presidente do conselho de economia da Fecomercio e do Lide Economia

A última Ata do Fomc, Comitê de Política Monetária do Fed, há poucos dias, mostra o velado desentendimento entre seus membros acerca da eficácia da política de sair comprando, de modo ilimitado no tempo, US$ 85 bilhões em títulos mais longos, em geral de 10 anos de vencimento, todos os meses, sem interrupção.

É uma verdadeira "bomba" de liquidez nas veias da economia americana. Os membros do Comitê têm olhado os resultados pífios dessa política sobre o setor produtivo, enquanto observam distorções incômodas - para sermos delicados - no tocante ao grau de artificialismo a que chegaram os mercados de títulos e os juros, onde o único comprador de vulto é o próprio Fed.

Ora, enquanto a economia produtiva capenga (crescimento zero no 4Q2012), mesmo com toda injeção maciça de recursos monetários, até um observador menos atento da política do Fed começa a se perguntar para onde irão as taxas de juros e, com elas, toda a estrutura de juros bancários, na hora em que o Fed resolver suspender suas compras.

O mercado começa a antecipar respostas, como aliás, sempre costuma fazer, quando uma política de acomodação das autoridades, sempre aplaudida de início (quem gosta de ajuste e dureza?) começa a ser questionada em seus efeitos e limites. É o que ocorre neste momento.

As taxas de juros deram uma meia-volta do nível mínimo histórico de 1,5% a que haviam chegado os papéis após o anúncio bombástico do afrouxamento conhecido como QE3. Isso foi no segundo semestre de 2012.

Comentamos nesta página que o Fed tinha revelado seu voto pró-democrata na eleição que se avizinhava. Dito e feito. As repercussões imediatas do novo mega-afrouxamento não tardaram.

Aumentos de cotações em mercados de risco, percepção de afastamento de problemas iminentes na Europa e alhures e, sobretudo, os demais bancos centrais importantes, coordenados ao Fed, todos "enfiando o pé na jaca", como se diria sobre emitir quantidades estrondosas de dinheiro sem maior preocupação em matéria de inflação, tema só aparentemente controlado.

Acontece que a economia produtiva, atada por um monumental endividamento cruzado, público e privado, tanto nos EUA, como Europa, Japão e até China (podemos colocar o Brasil também na lista) não consegue animar o consumo doméstico e os investimentos nesses países e regiões, ao ponto de estabelecer um confiável recomeço de um novo ciclo de alta da produção e emprego.

O que se vê são as sequelas negativas da política de afrouxamento generalizado tomando conta da cena, principalmente a chamada "guerra cambial", na medida em que os EUA promovem a desvalorização do dólar para recuperar mercados, machucando a recuperação europeia e detonando a competitividade japonesa.

A reação dos demais é emitir mais e tentar desvalorizar suas moedas. Os custos das matérias-primas em dólar também permanecem elevados e a recuperação do investimento industrial não acontece. Será essencial para os aplicadores observarem a curva de juros dos títulos americanos. E isso terá forte repercussão potencial sobre a política, até aqui acertada, de juros mais baixos no Brasil.

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Paulo Rabello de Castro é presidente do Conselho de Economia da Fecomercio e do Lide Economia

Fonte: Brasil Econômico - 8/2/2013

 

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