Mara Sampaio - Psicóloga e especialista em cultura empreendedora
Sociedades podem ser desfeitas diante de divergências sobre a estratégia do negócio ou outro problema de relacionamento mais sério entre os donos da empresa. Já os laços de sangue, são eternos.
Essa é uma das razões pelas quais muita gente desaconselha o empreendedor a iniciar um negócio com um parente próximo. Em alguns casos, um conflito familiar pode por tudo a perder. Esse é um dos lados da moeda.
O outro é o de que o parentesco cria uma relação de confiança que permite enfrentar com mais determinação as adversidades naturais em qualquer empreendimento.
Seja como for, não existe uma receita pronta para lidar com essa situação. Alexandre Reis, de 41 anos, encontrou a dele. Ele é o presidente da Formags, uma gráfica importante em São Bernardo do Campo (SP) e o mais novo dos três irmãos que são sócios. Os outros dois são Agnaldo, o mais velho, e Rodolfo.
A empresa hoje tem 20 anos de mercado e é especializada em impressões de alto padrão. Faz catálogos, livros, folhetos e outros impressos promocionais de qualidade. A sede ocupa um terreno de 5000 metros quadrados e os equipamentos são moderníssimos. O quadro de funcionários tem quase 200 pessoas. Ou seja: é uma empresa consolidada, com uma boa carteira de clientes e aspirações de crescimento. Mais do que isso, foi construída pelos irmãos.
Cerca de 20 anos atrás, o irmão mais velho, Agnaldo, tinha uma pequena impressora no fundo do quintal da casa dos pais e rompeu com o sócio, que administrava as contas da empresa. Na época, Alexandre, que era bancário e estudante de Direito, ouviu do pai, num almoço de domingo, um pedido para que ele ajudasse o irmão.
A família não tinha recursos para investir no crescimento do negócio e o único capital de que Alexandre dispunha era sua capacidade de trabalho. Alexandre pediu demissão e, com dinheiro emprestado pelo pai, tornou-se sócio de Agnaldo.
A empresa cresceu, mas ainda era um negócio modesto quando, em 1995, o outro irmão, Rodolfo, que havia perdido o emprego, foi convidado por Alexandre a integrar a sociedade. Passaram a ser, na definição do presidente, os três mosqueteiros: "um por todos e todos pela empresa".
A cumplicidade entre eles estimulou a ousadia de Alexandre para crescer e transformar a Formags numa gráfica-padrão em atendimento e tecnologia.
Para Alexadre, uma empresa como a Formags, que atua num mercado ocupado por grandes competidores, só deu certo porque os três sócios são unidos por laços que são mais fortes do que todas as dificuldades que enfrentaram e as divergências que tiveram. Os três evoluíram muito e puderam proporcionar condições de vida melhores para eles mesmos e para os pais.
Entre os "tapas e beijos" naturais em qualquer sociedade (e em qualquer família), eles priorizam o compromisso com o negócio. Cada um exerce uma competência específica e essencial para o negócio. Agnaldo é o gráfico, responde pela produção, Rodolfo, um grande vendedor, cuida da área comercial.
Alexandre, mesmo sendo o irmão caçula, a sua visão estratégica e seu talento empreendedor lhe conferem a autoridade para presidir a empresa. Por isso, ele sabe que para a próxima etapa, com a empresa passando para maioridade, a relação de sociedade e gestão também terá que se transformar. Ou melhor, evoluir.
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Mara Sampaio é psicóloga e especialista em cultura empreendedora
Fonte: Brasil Econômico - 6/11/2012