February 22, 2013

A ‘bolha dos bonds’ prestes a estourar

Paulo Rabello de Castro (paulo@rcconsulgtores.com.br)

Poucas vezes um estouro foi tão anunciado e, ao mesmo tempo, tão desprezado como prognóstico. Desde que o Fed iniciou sua cruzada para não admitir a deflação de preços e manter vivo o mercado de títulos públicos e privados nos EUA durante o terrível ano de 2008, quase US$ 2 trilhões em papéis foram comprados em dívidas do Tesouro pela autoridade monetária americana.

Dito de modo muito simples, o Fed compra títulos e com isso fornece os dólares que o Tesouro haverá de gastar acima de tudo que arrecada, provocando um déficit fiscal monstruoso e enorme um aumento da liquidez.

Essa constante presença do Fed como comprador de títulos em fantásticos volumes é algo completamente distinto do conceito tradicional das chamadas Operações no Mercado Aberto.

Atualmente, o Fed tem comprado US$ 85 bilhões por mês, continuamente, e promete continuar nessa política exótica de inflar "ar quente" - como se diz no jargão de Wall Street - no balão meio apagado da economia americana, tudo para não deixar as estatísticas do consumo interno americano mostrarem que o país caiu de novo num recuo de PIB, ou seja, na recessão.

Mas por que uma bolha teria se formado em torno da dívida pública, como admitem claramente os principais analistas econômicos?

Na medida em que os preços dos papéis estão artificialmente inflados, muito mais altos do que deveriam estar, isso implica um efeito muito semelhante a uma bolha imobiliária que, quando estoura, carrega consigo o espectro de prejuízos não só para quem detém imóveis pagos e liquidados no seu portfólio, mas principalmente - e este é o problema central de uma bolha - para todos os que tomaram emprestado para especular comprando aquele ativo muito valorizado, cuja cotação finalmente despencou.

Isso pode perfeitamente acontecer com os bonds americanos. A questão é muito mais tentar descobrir quando.

Há praticamente uma década que a curva de juros é só descendente no mercado americano, com pequenos intervalos em que oscilou para cima. Quem é do mercado financeiro sabe que os preços dos papéis de dívida caminham inversamente aos juros, ou seja, sobem os preços, valorizando os papéis, quando os juros caem.

É uma perfeita gangorra. Como após 2008 os juros foram a quase 0%, os preços subiram muito, fazendo disparar ganhos nessas carteiras de renda fixa. Desde então se aposta quando e como ocorrerá uma reversão disso, quer dizer, o estouro da bolha dos bonds. Há gente que supõe ser em 2013, até pelo limite a que chegou tal valorização.

Contudo, sabemos que o Fed não se preocupa com limites. Se assim fora, não teria deixado criar a bolha imobiliária.

Logo, a bolha vai continuar sendo inflada, do jeito que costuma acontecer em todas as grandes crises, sempre indo muito além do limite, mesmo daquele limite não razoável. Por isso, os analistas mais experientes preferem aguardar antes de fazer a reversão de suas posições, preferindo não apostar contra os trilhões injetados pelo Fed.

------------------------------------------------------------

Paulo Rabello de Castro é Presidente do conselho de economia da Fecomercio e do Lide Economia

Fonte: Brasil Econômico - 22/2/2013

Share

Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com os nossos Termos de Uso e Política de Privacidade e, ao continuar navegando neste site, você declara estar ciente dessas condições.