Publicada em:
A Tribuna, 11/5/2012, sexta-feira, página C-4, Economia
# Assunto foi debatido por especialistas de 18 países no último dia do Seminário Internacional de Café de Santos
LUCAS KEMPREL
DA REDAÇÃO
Consumo cada vez maior e uma produção que não acompanha o mesmo ritmo de crescimento. Este é o principal dilema do setor cafeeiro mundial. No segundo e último dia da 19.ª edição do Seminário Internacional de Café de Santos, realizado no Sofitel Jequitimar Hotel, em Guarujá, especialistas discutiram esse assunto.
A analista internacional de café Maja Wallengreen revelou que desde 2002 a produção de café está estagnada no mundo. "Não vimos nenhuma mudança até agora. Poucos países conseguem manter uma produção boa. O Brasil é um deles".
Ela cita o case do Espírito Santo como um dos fatores de sucesso do Brasil, mas diz que o o mundo vai precisar de muito mais para atender a demanda. "O Estado está fazendo o possível para chegar a uma produção de 80 sacas por hectare. Apesar de ser um bom número, isso é apenas uma gota no oceano para o consumo mundial".
ESTOQUE
Com o estoque baixo na Colômbia e em países da América Central e Ásia, Maja acredita ser cada dia mais difícil achar uma solução para o problema. "Escuto que o Brasil tem áreas para produzir 10 milhões de novas sacas, mas ninguém fala sobre o custo disso: US$ 6,7 bilhões. Se eu tivesse esse dinheiro, eu investiria no mercado imobiliário ou outro setor. O mercado do café é muito volátil".
CLIMA E PESTES
Diversos fatores contribuíram para a trava no setor. Segundo a dinamarquesa, que vive no México, mudanças climáticas e pestes são os principais motivos. "Todos os países produtores sofreram impacto com as mudanças climáticas na safra 2010/2011. Nunca tínhamos passado por um momento como esse. E isso não deve mudar em dois ou três anos".
De acordo com o diretor exexcutivo da Organização Internacional de Café (OIC), Robério Silva, um dos palestrantes do evento, a produção global de café na atual safra 2011/2012 deverá cair 2,4%. "A expectativa é que fique em 131 milhões de sacas".
COLÔMBIA
Como exemplo das condições adversas, Maja usou a Colômbia, tradicional produtora de café. "Se a temperatura média sobe um grau no país, a produção é muito afetada. E não tem saída. Ninguém vai desenraizar e subir o plantil para o morro, 300 metros acima, para manter a produção".
CONSUMO
O aumento no consumo, mesmo sem números divulgados, está muito ligado aos países emergentes. Brasil e China são dois dos dos responsáveis pelo crescimento. Maior produtor do mundo, com 55 milhões de sacas por ano, o Brasil é o segund9o maior consumidor também. Especialistas apontam, no entanto, que o País deve ultrapassar os Estados Unidos até o final do ano.
O consumo registrado no Brasil, em 2010, foi de 4,81 quilos por habitante. Um terço do café bebido no mundo vem do País.
Para o pesquisador do Centro de Café do Instituto Agronômico da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, Roberto Antônio Thomaziello, o Brasil pode ampliar ainda mais a liderança no mercado. "Muito se fala em qualidade, mas precisamos melhorar a produtividade. A qualidade vem junto".
Promovido pela Associação Comercial de Santos (ACS) e sua Câmara Setorial dos Exportadores de Café, o Seminário Internacional de Café de Santos contou com a participação de 400 pessoas de várias partes do Brasil e do mundo.
BRASIL DEVE FAZER A LIÇÃO DE CASA
O alto nível dos debates durante o Seminário Internacional de Café de Santos agradou o presidente da Associação Comercial de Santos, Michael Timm. "Os palestrantes deram o recado sobre o consumo e a produção do café e os países produtores, como o Brasil, precisam fazer a lição de casa para não faltar café nos próximos anos".
Para ele, o seminário mostrou sua importância ao abrir os olhos das pessoas sobre o que está acontecendo no mercado mundial.