11 de março de 2022

ECONOMIA: Aumento da Petrobras veio mais rápido que o esperado por economistas

Por Rafael Vazquez, Anaïs Fernandes e Alessandra Saraiva — De São

Fonte: Valor Econômico

O reajuste anunciado ontem pela Petrobras nos preços da gasolina, do diesel e do gás (GLP) não chegou a surpreender o mercado, mas veio mais alto e de forma mais rápida do que a grande maioria dos economistas esperava, o que causou revisões imediatas em algumas casas para as expectativas de inflação.

Os reajustes vieram após 57 dias sem altas e foram influenciados pela guerra entre Ucrânia e Rússia, que fez disparar o preço do petróleo no mercado internacional.


Segundo cálculos do economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) André Braz, o impacto do reajuste nos combustíveis é de 0,75 ponto percentual (p.p) no IPCA de março e abril - 0,40 p.p. e 0,35 p.p. respectivamente. Para o fim de 2022, o índice pode chegar a 7,5%, disse o economista.


Braz pondera que, como o conflito no Leste Europeu não dá sinais de término no curto prazo, não dá para saber se o preço do petróleo vai parar por aí.


Ontem, o barril do Brent fechou em queda de 1,62% diante de esforços dos EUA para colocar mais oferta no mercado, mas antes chegou a subir mais de 3% e atingiu a máxima diária de US$ 118,36.

A volatilidade deve permanecer e uma disparada maior não é descartada em meio às sanções que os países ocidentais estão impondo à Rússia, grande produtora e fornecedora global da commodity.


Fora a incerteza sobre até onde o preço do petróleo pode chegar, o novo reajuste da Petrobras sozinho já eleva as expectativas de inflação. Logo após o anúncio, a LCA Consultores aumentou a expectativa do IPCA de 6,01% para 6,50% para o fim de 2022. “O impacto direto destes aumentos de diesel e gasolina no IPCA é de 0,5962 ponto percentual”, calculou o economista Fábio Romão.


A LCA agora projeta inflação de 10,58% para o grupo Transportes no fim do ano - a previsão anterior era de 8,72%. Já a projeção sobre o grupo Alimentação e Bebidas variou menos, de 7,02% para 7,16%.

“Especificamente sobre Alimentação, muito recentemente incorporei os efeitos das altas de commodities via guerra. Por isso da mudança modesta nesta atualização. Na verdade, antes de todo este ajuste via Rússia-Ucrânia tínhamos 5,8% para Alimentação e bebidas e agora está em 7,16%”, explicou Romão.


O J.P. Morgan também elevou a sua projeção de IPCA em 2022 de 6% para 6,5%, incorporando também a perspectiva de preços ainda mais altos de outras commodities.


Os economistas Vinicius Moreira e Cassiana Fernandez escreveram, em relatório, que o aumento pela Petrobras de 18,7% para a gasolina e 24,9% para o diesel foi “maior e mais cedo do que nossa premissa de dois aumentos de 8% entre março e abril”.


Nas suas estimativas, o anúncio maior que o esperado adiciona cerca de 0,15 ponto percentual à previsão do banco. “Como chegou antes do esperado, aumenta nossas estimativas de inflação para março e abril, mas tem um efeito de queda em maio, pois não esperamos mais outro aumento em meados de abril.” O IPCA de fevereiro, a ser divulgado hoje, será importante para ajustar as expectativas de curto prazo, acrescentam.


O Santander também já sinalizou que vai atualizar sua estimativa de inflação. “Nós já considerávamos um reajuste de 10% no nosso cenário. Por isso, a surpresa em relação à nossa projeção para o aumento da gasolina foi menor, de 9 pontos, o que deve adicionar 0,17 p.p. à inflação anual”, comentou Daniel Karp, economista do banco, ressaltando que a alta do IPCA no mês atual deve ser elevada de 0,81% para cerca de 0,95%.


“Para 2022, nossa previsão oficial está em 6%, mas, após os choques recentes de commodities e o reajuste da gasolina, a tendência é que o número vá para em torno de 6,7%”, adicionou.


Outras casas já haviam ajustado suas expectativas de inflação nesta semana antes do anúncio da Petrobras, mas já considerando um reajuste nos preços dos combustíveis. O BNP Paribas, por exemplo, espera o IPCA em 7% no fim do ano.


Com as expectativas de inflação mais altas, a atenção se volta para o Banco Central. As previsões para a taxa Selic, atualmente em 10,75%, não foram diretamente revisadas a partir do anúncio da Petrobras, mas já estão sob viés de alta desde antes com os efeitos inflacionários gerados pela invasão russa à Ucrânia.


O economista da Rio Bravo Investimentos Luca Mercadante afirma que a sua previsão para a Selic ainda está em 12,25%, mas já tem no radar um número mais alto dependendo da comunicação do Banco Central na próxima reunião. Para a inflação, a gestora já havia atualizado, na semana passada, a expectativa de 5,7% para 6,5% para o IPCA no fim do ano.


O C6 Bank, que revisou a projeção de inflação de 5,5% para 6% após o anúncio da Petrobras, também mantém a sua expectativa de Selic em 12,75% no fim de 2022, mas não descarta taxa de juros mais elevada.

 

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