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A Tribuna - 2/9/2014, página C-2, Porto & Mar
# Instalação de contêineres será a mais avançada do mundo e terá operações controladas por computadores
LEOPOLDO FIGUEIREDO
ENVIADO ESPECIAL A ROTERDÃ
O maior porto do Ocidente contará, a partir de novembro, com o mais avançado terminal de contêineres do mundo. Trata-se da nova instalação da APM Terminals, do Grupo Maersk, que se destaca por ter as operações totalmente automatizadas.
Ou seja, tanto o embarque e o desembarque como a armazenagem das cargas nos pátios serão feitos sem a necessidade de operadores. Eles serão controlados por computadores a partir de uma programação prévia.
A instalação, que está em fase de testes, é um dos novos terminais construídos em Maasvlakte 2, a nova área de expansão do Porto de Roterdã, na Holanda. A região foi visitada na tarde de ontem pelos empresários e autoridades que integram a comitiva do Santos Export. O grupo foi recebido pelo diretor de Gestão da instalação, Frank Tazelaar.
A nova unidade da APM Terminals terá um cais de 2,8 quilômetros de extensão e ocupará uma área de 1,67 quilômetro quadrado, quase um quarto da superfície do Porto de Santos, que é de 7,8 quilômetros quadrados. Mas sua implantação será em fases.
Nesta etapa inicial, tem 600 mil metros quadrados, mil metros de cais e berços (o local de atracação dos navios) com 20 metros de profundidade, podendo receber navios de 18 mil TEU, os maiores do mercado.
O primeiro cargueiro – ainda não se sabe qual será - está previsto para o final de novembro, segundo Tazelaar.
A instalação também já conta com um cais para barcaças com 500 metros de comprimento e berços de 10 metros de fundura. Essa infraestrutura é estratégica, uma vez que Roterdã tem 40% de seus contêineres escoados por essas embarcações, que os trazem ou os levam para o interior da Europa através dos rios locais.
Quando totalmente implantado, o terminal terá capacidade para operar 4,5 milhões TEU (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés), 1 milhão a mais do que Santos escoou no ano passado (3,44 milhões TEU).
OPERAÇÃO
Durante a visita, a comitiva pode observar a retirada de contêineres de vagões (que chegavam ao terminal) por um pórtico, sua colocação em uma plataforma móvel e seu transporte, pelo veículo, em direção ao pátio. Tudo foi feito automaticamente. Também não são necessários profissionais para operar os portêineres no embarque e no desembarque das mercadorias e os carros que vão levá-las entre o cais e o pátio de armazenagem. As ações são coordenadas por uma malha de sensores instalada no próprio pátio. Os funcionários da empresa ficam concentrados no edifício central do terminal.
Devido a essa automação, o número de empregados deve chegar a 350, metade do que uma instalação desse porte demandaria. Segundo Tazelaar, a oferta de mão de obra foi um fator determinante para a implantação da unidade.
“Um dos motivos para adotarmos essa tecnologia é a falta de mão de obra para esse tipo de atividade na região. Outro é a velocidade operacional que vamos obter, dando condições de operar os grandes navios que Maasvlakte poderá receber. Por fim, também apoiamos a política verde adotada no Porto de Roterdã. Todos os nossos equipamentos são elétricos. No terminal, não haverá emissão de CO2”, afirmou o executivo, citando o gás liberado com a queima de combustíveis fósseis, usados em vários equipamentos portuários.
Sobre a falta de mão de obra citada por Tazelaar, o problema foi confirmado por representantes da Autoridade Portuária.
A implantação dessa unidade da APM Terminals representou um investimento de 500 milhões de euros. Ela é a segunda instalação da empresa em Roterdã. A primeira fica na região vizinha de Maasvlakte 1 e pode movimentar 2,5 milhões TEU. Essa unidade é semi-automatizada.
Nesse caso, suas operações de pátio seguem a coordenação de um sistema informatizado, mas os embarques e desembarques são realizados por portêineres operados por profissionais.
OBRAS
Em Maasvlakte 2, estão sendo finalizados mais dois terminais de contêineres. Um deles será o Rotterdam World Gateway (RWG), criado a partir de uma joint venture da operadora portuária Dubai Ports World, que irá administrá-lo, com as armadoras MOL, Hyundai, APL e CMA CGM, que vão utilizar seus berços. A instalação será capaz de movimentar 4 milhões TEU por ano. A RWG fica em frente ao cais da APM. O outro terminal de contêineres é a nova unidade da Euromax Terminal, da operadora ECT.
A visita às novas instalações da APM Terminals foi um dos compromissos da comitiva do Santos Export na tarde de ontem.
Eles também percorreram, de barco, a região de Maasvlakte e conheceram os armazéns frigoríficos da Eurofrigo, nas proximidades da zona portuária. A empresa recebe 80% dos contêineres com carnes congeladas que passam por Roterdã.
# Tecnologia
"Um dos motivos para adotarmos essa tecnologia é a falta de mão de obra para esse tipo de atividade na região. Outro é a velocidade operacional que vamos obter, dando condições de operar os grandes navios que Maasvlakte poderá receber."
Frank Tazelaar, diretor de Gestão da APM Terminals em Maasvlakte 2
# Participantes
A comitiva do Santos Export é composta por executivos dos principais terminais portuários e das companhias prestadoras de serviço na Baixada Santista.
Há dirigentes de instalações de contêineres e passageiros, da Praticagem de São Paulo.
Também participam representantes de associações empresariais, como o Centronave (Centro Nacional de Navegação, que reúne os armadores em atuação no Brasil), a Associação das Empresas do Distrito Industrial e Portuário da Alemoa (AMA), a Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra), a
Associação Brasileira de Terminais Retroportuários e das Empresas Transportadoras de Contêineres (ABTTC) e a Associação Comercial de Santos.
Entre as autoridades, estão o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Mário Povia, e o presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), Angelino Caputo e Oliveira.
Ainda integram o grupo diretores do Sistema A Tribuna de Comunicação e da Una Marketing de Eventos.
# Missão internacional
A visita de autoridades e empresários do Porto de Santos a Roterdã (Holanda) e Duisburg (Alemanha) faz parte da programação da edição deste ano do Santos
Export. Esta é a primeira vez que haverá o retorno a um complexo portuário. Em 2005, quando as atividades do fórum passaram a ser complementadas com uma viagem a portos estrangeiros, os destinos foram Le Havre (França) e Roterdã.
A ideia é observar o quanto o complexo holandês evoluiu. Nestes nove anos, foram visitados complexos da América do Norte (Houston, Los Angeles, Long Beach, Miami e Seattle, nos Estados Unidos, e Vancouver, no Canadá), da América Central (o Canal do Panamá e Colón, no mesmo país), da Europa (Southampton, na Inglaterra, Barcelona, na Espanha, Gênova, na Itália, Hamburgo, na Alemanha, Copenhague, na Dinamarca), da Ásia (Xangai, Shenzhen, Ningbo e Hong Kong, na China) e do Oriente Médio (Jebel Ali, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos).
Confira a reprodução da capa de A Tribuna com a chamada sobre o Porto de Roterdã
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