Rogério Mori - Professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP)
A evolução da inflação brasileira nos últimos meses tem sido um tema de recorrente debate entre economistas. A alta de preços nos últimos meses ficou acima do esperado pelas projeções e as perspectivas para adiante não são muito mais positivas para os próximos meses.
Tudo indica que o limite superior da meta para inflação medida pelo IPCA, de 6,5%, será rompido ainda em 2011.
Em artigo recente, discuti de forma crítica a proposta fora de foco de o Banco Central permitir a apreciação do real frente ao dólar como uma forma de combater a inflação. A implementação dessa proposta traria apenas um alívio de curto prazo, com conseqüências consideráveis em termos de deterioração das contas externas.
Esse processo agravaria mais o déficit em conta corrente brasileiro e tornaria o país mais vulnerável a uma fuga de capitais.
De qualquer forma, o Banco Central tem optado por manter a lógica da política monetária em curso, sem invencionices na área cambial. O que surpreendeu na última reunião do Comitê de Política Montaria (Copom) foi a elevação de apenas 0,25 ponto percentual na meta da taxa básica de juros em um momento em que a inflação se mostra persistente, sem dar sinais de queda.
Essa decisão foi relativamente surpreendente, uma vez que boa parte dos economistas esperava que, ante o cenário de inflação e das suas perspectivas, o aumento seria maior, da ordem de 0,50 ponto percentual.
Também há que se considerar o fato de que a atividade econômica continua robusta, com boas perspectivas de crescimento, e os preços internacionais de commodities seguem em alta.
Sob essa perspectiva, cabe indagar quais foram as razões que levaram o Banco Central a um movimento mais moderado em termos de política monetária do que o esperado.
Nesse contexto, há que se reconhecer que existem defasagens concretas entre as ações de política monetária e seus efeitos sobre a atividade econômica e a evolução dos preços na economia brasileira. Alguns estudos apontam uma defasagem de 6 a 9 meses nesse processo.
Também deve ser considerado o fato de que algumas outras medidas além da elevação da meta da taxa básica de juros também foram adotadas por parte do BC, como restrições ao crédito e compulsórios. Isso representa uma mudança em relação ao que vinha sendo adotado, cujos efeitos em termos de dimensão e temporais são de difícil mensuração.
Essas mudanças alteram o quadro e tornam um pouco mais difícil a interpretação acerca do diagnóstico e das perspectivas futuras acerca da inflação e da atividade econômica no Brasil.
Por outro lado, o ritmo da atividade econômica continua relativamente forte, sendo ainda impulsionada pela expansão do crédito. Caso o ritmo de crescimento do lado da demanda supere o da oferta, novas pressões de preços se cristalizarão.
Aparentemente preocupado em provocar uma desaceleração desnecessária do crescimento, o BC parece inclinado a aguardar os efeitos das suas ações de política monetária antes de tomar novas medidas. A resposta será dada pelos próximos indicadores de inflação e atividade econômica.
----------------------------------------------------------
Rogério Mori é professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP)
Fonte: Brasil Econômico - 27/4/2011
27/04/2011