Júlio Gomes de Almeida - Economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial
Nos primeiros cincos meses de 2011, o crescimento industrial não chegou a 2%, muito longe da taxa alcançada no mesmo período do ano passado (17,3%) ou do ano como um todo de 2010 (10,5%).
É claro que esses últimos índices têm correspondência em um processo de recuperação de nossa economia à crise internacional, razão pela qual foram mais expressivos.
Mas, se retrocedermos ao período pré-crise, a comparação também faz sobressair o magro desempenho de 2011: no ano cheio de 2007, a expansão industrial foi de 6% e de 6,3% no período acumulado entre janeiro e maio de 2008.
Outro ponto relevante a ser observado: o encolhimento da produção tem sido generalizado.
Assim, acusam redução absoluta setores tão relevantes quanto distintos como alimentos, bebidas, indústria têxtil, vestuário, calçados, edição e impressão, perfumaria, produtos químicos, mobiliário, máquinas para escritório e equipamentos de informática.
Em vários outros casos a produção cresceu, porém muito pouco (abaixo de 3%), a exemplo de celulose e papel, madeira, borracha e plástico, metalurgia básica, produtos de metal, máquinas e equipamentos e máquinas e materiais elétricos.
Como se vê, é grande o número de segmentos com flagrante perda de dinamismo ou mesmo retração absoluta, conferindo uma ampla abrangência ao baixo crescimento desta primeira metade de 2011.
Se, na grande maioria dos setores o nível atual de crescimento é não só inferior ao ano da recuperação (2010) como está também muito distante do padrão anterior à crise, a conclusão é que a indústria brasileira já não vem sendo capaz de transformar, como antes, o bom momento econômico vivido pelo país em maior investimento e produção para o mercado doméstico e para exportação.
Mesmo nos casos dos ramos favorecidos pela conjuntura interna e internacional, a expansão, embora ainda presente, tem sido menor do que antes, como na extração mineral, refino de petróleo e álcool, farmacêutica, minerais não metálicos, material eletrônico e de comunicações, veículos automotores e outros equipamentos de transporte.
Exceção à regra, o setor de equipamentos de instrumentação médico-hospitalar teve performance superior a de qualquer outro momento e foi o campeão de crescimento industrial. Esses casos contribuíram para sustentar uma taxa positiva para a indústria.
As observações acima sugerem que uma causa de efeito muito amplo e de gravidade ímpar se apresentou em 2011 para deprimir a indústria.
Medidas tomadas pelo governo para desacelerar o crescimento econômico - cortes de gastos públicos, elevações da taxa de juros e controle do crédito - e que já reduzem o ritmo de crescimento do consumo devem ter contribuído.
Mas, a valorização cambial e um contexto global em que economias muito competitivas como China, Coreia e Alemanha, buscam mercados alternativos diante do frágil progresso das economias centrais, são os fatores principais que derrubaram a indústria brasileira. Esta vem perdendo posições em mercados de outros países, assim como no mercado interno diante da produção externa.
Está excepcionalmente caro produzir no Brasil e a taxa de câmbio agrava muito esta situação.
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Julio Gomes de Almeida é economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial
Fonte: Brasil Econômico - 7/7/2011
07/07/2011