Editorial
Nada desagradou tanto a população do Rio de Janeiro como a decisão do presidente Juscelino Kubitschek de transferir a capital do país para Brasília, façanha tida como um sonho distante, quase irrealizável, embora prevista desde os tempos do Brasil Colônia.
Iniciadas em fins de 1956, as obras seguiram em "ritmo alucinante", como relatam depoimentos de pessoas que acompanharam os trabalhos, permitindo que a inauguração da nova capital acontecesse pouco mais de três anos depois, em 21 de abril de 1960.
A rapidez da construção não se repetiu, contudo, no processo de transferência dos órgãos públicos federais da orla para o Planalto Central.
Extremamente lenta no início, a mudança só ganharia ritmo no final dos anos 60, já em pleno regime militar. E há quem atribua a aceleração ao fato de o Rio ter se transformado em reduto de oposição aos militares, enquanto se mantinha também como principal polo cultural e artístico do país.
Coincidentemente, quando o Brasil vivia o que seria classificado como o "milagre econômico" do fim dos anos 60 e início dos 70, o estado começava a sentir o esvaziamento político-administrativo, cujos efeitos mais visíveis foram a favelização e o aumento da criminalidade.
Nem mesmo a histórica descoberta de reservas de petróleo na Bacia de Campos, em 1974, reverteu esse quadro que persistiu após a restauração da democracia e a volta das eleições diretas em todos os níveis.
Novas descobertas de petróleo, dessa vez na camada pré-sal, os jogos da Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada de 2016 criaram as condições para corrigir uma distorção de várias décadas e devolver ao estado e a sua festejada capital a importância econômica que sempre mereceram ter e que nunca deveriam ter perdido.
Como relatam na edição desta quarta-feira do Brasil Econômico os repórteres Daniel Haidar, Fabiana Monte e Ricardo Rego Monteiro, os primeiros resultados surgem na vultosa cifra de US$ 60 bilhões em investimentos, de 2007 a 2010, quesito que coloca o Rio como o segundo maior captador de recursos no período, perdendo apenas para Minas Gerais, que recebeu US$ 82,3 bilhões.
Fonte: Brasil Econômico - 23/3/2011
23/03/2011