Joseph Couri - Presidente do Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo (Simpi)
A ascensão entre classes econômicas no Brasil virou tema recorrente em diversos setores. De todas as faixas, a classe C tornou-se a vedete, com suas especificidades e uma capacidade impressionante de consumo, que movimenta cerca de R$ 880 bilhões por ano, entre salários, benefícios e financiamentos.
A classe C caminha para ser absoluta, já que a classe A praticamente parou de crescer e a B e D o fazem em ritmo lento.
Com mais de 30 anos de atividade empresarial, chamam minha atenção os motivos que levam a isso e que podem resultar na redução da classe E, que ganha até 1 salário mínimo. É inegável o peso dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, na erradicação da miséria.
Expandi-los é certamente um caminho. Diria que é apenas um deles. O empreendedorismo também pode promover e acelerar a mobilidade social. Usando uma expressão popular, "subir na vida" - e de elevador. Um exemplo é o MEI (Microempreendedor Individual), programa que formalizou mais de 800 mil empresas só em 2010.
Entretanto, é preciso mais estímulo. No Brasil há 190 milhões de habitantes e cerca de 6 milhões de micro e pequenas empresas ativas, ou seja, uma para cada 32 habitantes. Nos Estados Unidos, onde a população soma 311 milhões de pessoas, há 25,8 milhões de micro e pequenas empresas, quatro vezes mais para uma população 60% maior que a nossa.
A Índia, outra economia em desenvolvimento, oferece apoio aos empreendedores locais voltado à inovação tecnológica e competitividade, para aprimorar produtos, processos e gestão.
O Ministério das Microempresas daquele país certamente tem muito trabalho: com uma população que passa de 1 bilhão, estima-se em 26 milhões o número de microempresas formais, que somadas às informais totalizam 133 milhões, ou uma para cada 7 habitantes.
A importância dos pequenos para a economia do Brasil já enseja há tempos uma iniciativa desse tipo, na esfera federal. Por isso acreditamos que a criação de um ministério voltado às pequenas empresas, anunciado pela presidente Dilma recentemente, seja questão de urgência.
É essencial ter mais políticas específicas, aumentar a oferta de crédito para o setor produtivo e facilitar o acesso ao dinheiro, apoiar a qualificação e estimular a formalização.
Tudo isso influi na decisão de empreender e, mais que apenas na sobrevivência, também no sucesso de uma empresa. Sem contar as reformas trabalhista e tributária, que permeiam os nossos sonhos. Esses são os atalhos para diminuirmos a desigualdade.
Na mais recente crise global, as micro e pequenas empresas já provaram ser uma resistente tela de proteção social.
Se começamos o ano com a perspectiva de um aumento do PIB em torno de 5% para o Brasil em 2011, é porque os efeitos da crise foram absorvidos em parte pelo mercado interno, que ajudou a manter o consumo e a renda e têm garantido, ainda que a uma velocidade aquém da esperada, um crescimento sustentável ao Brasil.
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Joseph Couri é presidente do Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo (Simpi) e da Associação Nacional dos Simpi (Assimpi)
Fonte: Brasil Econômico - 18/3/2011
18/03/2011