Costábile Nicoletta - Diretor Adjunto do Brasil Econômico
Que segredos guarda o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, para que o governo aceite barganhar com o Congresso Nacional a votação de projetos pela não convocação do auxiliar da presidente Dilma Rousseff?
Tudo parece ter virado motivo para negociação, do Código Florestal a propostas menos conhecidas.
Até a suspensão da produção do material de combate à homofobia, que seria distribuído a cerca de 6 mil escolas de ensino médio, foi atribuída ontem a uma negociação do governo com a bancada evangélica da Câmara dos Deputados, que ameaçou não colaborar com os projetos do Poder Executivo.
Quanto mais tempo Palocci demora para esclarecer sua evolução patrimonial no hiato entre sua estada como ministro da Fazenda de Luiz Inácio Lula da Silva e o cargo atual na administração Dilma, aumenta proporcionalmente a suspeição de que, de fato, tenha cometido algo ilícito, sobretudo pelo esforço despendido por vários membros do governo e do Partido dos Trabalhadores para evitar sua convocação para explicar-se publicamente sobre os negócios que alega não poder revelar em decorrência de cláusulas de confidencialidade nos contratos de consultoria que prestou.
Se Palocci se sente constrangido de dizer o nome das empresas para as quais trabalhou e se nada mesmo houve que o denigra, essas companhias fariam um bem à nação se viessem a público voluntariamente e apresentassem os motivos pelos quais contrataram o "Pelé da economia", como Lula o qualificou em encontro com senadores.
A continuar nessa toada, Palocci vai acabar virando um Judas cada vez mais fácil de malhar, sem que se saiba qual foi sua traição. A presunção de culpa será sua condenação.
Já os deputados e senadores que chantageiam o governo trocando seu voto pela suposição de inocência de Palocci sem que ouçam suas explicações também prestariam um bem ao país se passassem a analisar com pelo menos um pingo de responsabilidade civil os projetos de interesse nacional.
Não se tem impressão de que realmente pretendem fazer com que o ministro esclareça sua situação. Quanto mais tempo prolongarem o calvário de Palocci, mais munição acumularão para negociar vantagens.
Não se condena aqui que funcionários públicos não possam ganhar dinheiro depois que deixam o governo. Mas os nobres parlamentares poderiam pensar numa lei que remunerasse decentemente a quarentena desse profissional quando se tornasse ex-servidor e estabelecesse que suas relações comerciais teriam de ser, necessariamente, de conhecimento público.
Dessa forma, não se cercearia seu comezinho direito capitalista de ganhar dinheiro, nem se esconderia da população por que é tão bem pago pela iniciativa privada.
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Costábile Nicoletta é diretor adjunto do Brasil Econômico
Fonte: Brasil Econômico - 26/5/2011
26/05/2011