Luciano Martins Costa - Jornalista e escritor, consultor em estratégia e sustentabilidade
A migração indiscriminada de espécies animais, vegetais e fungos é uma das mais graves sequelas da globalização. Não é de hoje que alguns biomas sofrem com a chegada e proliferação de predadores exógenos que rapidamente podem se tornar dominantes, ameaçando de extinção espécies nativas.
Como no filme Alien, o 8º Passageiro, dirigido em 1979 por Ridley Scott, o perigo viaja a bordo de aeronaves modernas, grudado em cascos de navios ou escondido na embalagem de produtos inofensivos.
Por volta de 1995, pastagens e plantações na região de Austin, no estado americano do Texas, foram ameaçadas pela proliferação de formigas cortadeiras originárias do Brasil, que viajaram provavelmente em caixotes de produtos para a agricultura. Foram consumidos muitos milhões de dólares até que a nova praga fosse controlada.
Em muitas regiões do Brasil, agricultores e autoridades precisam eventualmente promover campanhas para a erradicação do caramujo africano, que se tornou um problema até mesmo para instalações industriais.
No Recôncavo Baiano, por exemplo, esses caramujos provocam grandes transtornos ainda hoje. O mexilhão- dourado, que se tornou agora um problema no Brasil, é originário do sul da Ásia e tem um histórico de ocupações agressivas. Há registros de invasões em Hong Kong, em 1965, no Japão e em Taiwan nos anos 1990.
Com o crescente movimento de mercadorias ao redor do mundo, torna-se cada vez mais complicado impedir a contaminação de lavouras, animais e estoques de alimentos por esses alienígenas.
Da mesma forma que os vírus se adaptam e criam novas cepas, espécies vegetais ou animais podem adquirir mais resistência quando encontram ambiente diverso daquele de sua origem, alterando ciclos naturais e provocando desequilíbrios.
É o caso, por exemplo, da proliferação de piranhas fora das bacias do Pantanal Matogrossense e da transposição de outras espécies agressivas de peixes para regiões onde encontram alimento farto e falta de predadores. No final do século passado, esse já era um problema típico da hidrovia do Tietê.
Eventualmente, quando a invasão se dá em regiões extensas, a possibilidade de se instaurar um novo equilíbrio é maior, mas em sistemas fechados, como os manguezais, o efeito pode ser desastroso.
Embora tenha havido recentemente o desenvolvimento de tecnologias de controle, sabe-se que a melhor defesa de um bioma é sua diversidade.
Conjuntos mais extensos e complexos podem oferecer formas naturais de imunização ou abrandamento dos efeitos de uma invasão, mas o correto ainda é manter o controle nas entradas, como vem sendo feito no caso dos navios cargueiros.
Um dos principais desafios é o fato de que as espécies menores, mais difíceis de detectar, podem ser potencialmente mais destrutivas. Imagina-se, por exemplo, que as chances de sobrevivência de um leão na Amazônia são muito menores do que as do mexilhão-dourado nos rios.
Como a tenente Ripley, personagem de Sigourney Weaver no filme de Ridley Scott, não está disponível para enfrentar o alien predador, restam as tecnologias de limpeza como remédio. Mas o melhor mesmo é a prevenção, e nesse sentido ainda não foi inventada melhor vacina do que a própria biodiversidade.
----------------------------------------------------------
Luciano Martins Costa é jornalista e escritor, consultor em estratégia e sustentabilidade
Fonte: Brasil Econômico - 28/4/2011
28/04/2011