Paulo Rabello de Castro - Chairman da SR Rating e presidente do Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomércio
Prezado leitor: você que me lê, pela primeira vez, neste promissor tablet econômico, deve estar pensando o que quero dizer com os "donos do Brasil". Quem são eles, afinal?
Os donos do mundo têm sido, historicamente, os detentores do mando militar. Mas a característica central das democracias contemporâneas parece se afastar da capacidade de intervenção armada (strike power) e se deslocar para o "poder da barriga" (belly power).
Enquanto o incontrastável poder militar dos EUA nunca esteve tão alto no ranking dos fazedores de guerras, mesmo em confronto com a poderosa China, é neste mesmo quadrante da sua empolgante história que os americanos sofrem um verdadeiro esfarelamento da sua influência mundial, havendo acabado de perder o triplo A em segurança financeira do crédito do Tio Sam e, ao eliminar Osama bin Laden, sofrem o paradoxo de nação mais odiada.
De fato, o novo poder mundial se define de modo diverso no século da informação e da circulação. Conta mais como poder, nos dias de hoje, ter o desafio de milhões ou bilhões de barrigas a administrar num espaço de poder nacional, como os países briques tipo China, Índia, Indonésia, Paquistão e Brasil.
Os capitais produtivos lançam seu olhar guloso não mais sobre velhos e grandes mercados estagnados. O interesse converge sobre emergentes mercados, cujo avanço depende da composição sinfônica entre mais gente sentando à mesa e mais resultados práticos no fim do dia.
Mais gente na mesa é renda e população crescendo rápido. E este avanço da renda nacional depende de mais produtividade, que exige arranjos institucionais participativos, mais educação para a realização humana e profissional, e mais acesso ao capital pelas massas pobres.
Nestes três condicionantes fundamentais do poder nacional, o Brasil está no páreo, embora longe de liderar a prova. Lideramos pelos arranjos institucionais: a Constituição "cidadã" de 1988, apesar da prolixidade, nos deixa à frente de ditaduras bondosas, governos populistas e outros arranjos piores. Mas perdemos feio nos outros itens: na educação, desenhada para o não-aprendizado, e na falta de acesso ao capital pelas massas pobres.
Daí meu sugestivo título como início da prosa semanal nesta coluna, que falará de economia no mundo, mas sempre com um viés da caminhada brasileira.
Donos do Brasil, seremos quando o acesso à propriedade imobiliária e mobiliária se generalizar. E ainda falta muito. Se mais espaço houvesse, lhes falaria da revolucionária experiência do Cantagalo, em que provocamos o governo do Rio de Janeiro a entregar, esta semana, títulos de propriedade definitivos aos primeiros 44 moradores da atual favela Cantagalo e futuro bairro integrado a Ipanema.
Esta nova abordagem no acesso maciço à propriedade, capitaneado pelo governo Sergio Cabral, poderá nos converter numa nação de proprietários, usando os instrumentos legais já disponíveis.
Mas tem que querer. Idem, no acesso a uma previdência social nova, que passe a acumular investimentos do povão no capital produtivo das empresas e infraestrutura. Seremos, então, sócios do futuro, e donos verdadeiros da nação brasileira. Faremos, aí sim, deste país uma das nações mais poderosas do planeta.
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Paulo Rabello de Castro é chairman da SR Rating e presidente do Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomércio
Fonte: Brasil Econômico - 6/5/2011