Editorial
Ainda que não pertença à linha de frente dos maiores produtores mundiais de petróleo e, mesmo entre os países africanos, ocupe um modesto quarto lugar, atrás da Nigéria, Argélia e Angola, a Líbia deu motivos, ontem, para que o pode ser considerada uma nova escalada nos preços internacionais dos combustíveis.
Referência no mercado internacional, o petróleo tipo Brent, do Mar do Norte, chegou a ser negociado a US$ 105 o barril em Londres, o mais alto preço em dois anos.
A cotação recorde coincidia com informações de que as manifestações populares, iniciadas na Tunísia e Egito, e que se expandem pelos países sob regimes totalitários do Oriente Médio e Norte da África, sofriam na Líbia a mais cruel repressão.
Organizações humanitárias falam em mais de duas centenas de mortos e até na utilização de aviões para atirar em manifestantes. Apesar da forte repressão, os protestos aumentam e chegaram à capital do país, Trípoli, num prenúncio de que a situação só tende a se agravar.
O recrudescimento da crise com o consequente reflexo nos preços do petróleo acontece num momento em que a Petrobras pode ter de recorrer à importação de gasolina para atender o consumo em alta.
Com as usinas dando prioridade à produção de açúcar, aproveitando os bons preços dessa commodity no mercado internacional, o estoque de etanol recua, enquanto o consumo do combustível fóssil aumenta. Essa correlação pode piorar em função da estiagem de 2010 que provocará redução na safra da cana-de-açúcar que começa a ser colhida em abril.
À parte os conflitos nos países árabes, José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras, lembra a incerteza quanto ao comportamento da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) no abastecimento mundial, e as baixas taxas de juros nos países industrializados que estimulam os investidores a buscar rentabilidade nas commodities, entre elas o petróleo, contribuindo para o aumento dos preços.
O executivo descarta, contudo, qualquer reajuste no preço gasolina e demais derivados no curto prazo. A estatal mantém a diretriz de não transferir para o consumidor final a volatilidade do mercado internacional, como acontece agora.
Fonte: Brasil Econômico - 22/2/2011
22/02/2011