Luciano Martins Costa - Jornalista e escritor, consultor em estratégia e sustentabilidade
O desafio da ecoeficiência energética é um dos elementos centrais destes tempos em que a maior demanda se complica com a necessidade de assegurar que as fontes sejam ao mesmo tempo limpas e renováveis.
No geral, os debates públicos sobre essa questão se limitam às formas de geração, tema que se tornou ainda mais presente após a catástrofe nuclear no Japão.
Quando um incidente de altíssima gravidade coloca em xeque a geração nuclear de energia, é conveniente destacar as iniciativas inovadoras que vão desenhando as novas configurações do sistema que alimenta os negócios e a vida civil.
Os investimentos em eficiência são fundamentais não apenas por causa dos ganhos específicos, mas principalmente porque a questão da geração pode demorar a produzir um consenso ou alguns consensos, mas o sistema como um todo precisa perseguir metas ambiciosas de aproveitamento.
Seja qual for o sistema de geração, a gestão inteligente da rede joga um papel essencial, juntamente com os investimentos em aparelhos de baixo consumo na ponta dos fios, nesse conjunto de necessidades. Para as operadoras, trata-se de monitorar com mais precisão o consumo, evitando o furto de energia, prevenindo perdas e assegurando maior eficiência.
Além disso, o sistema inteligente permite conectar à rede geral a energia produzida por fontes alternativas, solucionando picos de demanda ou perdas locais, tornando o consumidor menos vulnerável a eventuais quedas de sub-redes.
Trata-se de uma inovação que oferece argumentos mais realistas para os especialistas que defendem mudanças no sistema de distribuição.
Num país de grandes dimensões como o Brasil, que já conta com uma oferta significativa de energia de fontes limpas e renováveis, a perspectiva de contar também com alternativas para o sistema de grandes geradoras integradas conduz o debate sobre a política energética para um patamar mais avançado.
Uma vez que, num futuro próximo, essas tecnologias inovadoras deverão permitir o intercâmbio entre fontes variadas, o país poderá contar com uma rede mais segura, à medida que a melhoria no monitoramento do consumo permitir ações mais efetivas em caso de necessidade de contenção em função de emergências ambientais e outras ocorrências que costumam afetar a distribuição de energia.
Tornando-se realidade a gestão inteligente nas proporções continentais do Brasil, a universalização do acesso à eletricidade, desafio central nas pretensões de desenvolvimento, torna-se um objetivo mais próximo. Além disso, o eixo dos debates pode se transferir da questão muito polêmica dos sistemas de geração para o espectro mais amplo da ecoeficiência e da segurança.
Com redes inteligentes, o potencial de sistemas alternativos de geração se aproxima da realidade, o que deve acelerar o desenvolvimento de soluções regionais, como a das termoelétricas a gás, das hidrelétricas de pequeno porte ou das usinas que aproveitam o calor de processos industriais instalados.
Sem falar na energia solar e na energia eólica. Este é um caso em que uma solução inovadora na ponta pode contribuir para a melhoria do sistema elétrico como um todo.
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Luciano Martins Costa é jornalista e escritor, consultor em estratégia e sustentabilidade
Fonte: Brasil Econômico - 7/4/2011
07/04/2011