Luciano Martins Costa - Jornalista e escritor, consultor em estratégia e sustentabilidade
O que é inovação? Alguns especialistas, como o professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas Moyses Simantob, acham que inovação é a invenção que passa pelo teste de mercado.
Outros acham simplesmente que, quando a pergunta é feita, não estamos diante de uma inovação, porque as inovações se impõem, independentemente de como sejam qualificadas.
De qualquer maneira, é grande a convergência de opiniões para o ponto em que uma iniciativa só deve ser considerada inovadora quando contribui para a sustentabilidade.
Pode-se, por exemplo, ser inovador em um programa de desmatamento, como os predadores que inventaram de usar correntes de ferro presas a tratores para tornar mais eficiente a derrubada de árvores na Amazônia? Como se pode observar, talvez seja mais fácil praticar do que definir a inovação.
De qualquer maneira, essa é uma expressão que veio para ficar, principalmente no que se refere à gestão sustentável. Há setores que correm grandes riscos se for desacelerado ou interrompido o processo de inovação.
Em busca da metáfora perfeita para definir o que é inovador, alguns acham o ponto de partida num conceito do matemático John Nash Jr., criador da Teoria dos Jogos e Nobel de Economia de 1994.
A ideia de Nash segundo a qual uma equação com muitas variáveis produz muitas respostas para um mesmo problema pode ser apontada como pressuposto essencial para o pensamento inovador, uma vez que esse conceito quebra o paradigma a que estamos habituados, de uma solução ideal para um problema específico.
Outras teses apontam para o uso da natureza como matriz de inovação. A pesquisadora Janine Benyus, criadora da Biomimética, misto de tecnologia e ciência aplicada que emula as soluções produzidas pelos seres vivos para enfrentar desafios do meio ambiente, é a musa dessa corrente de pensamento.
Há uma interconexão clara entre Nash e Benyus, no sentido em que também na biologia sobram exemplos de equações com múltiplas variáveis a oferecer alternativas para soluções inovadoras.
Tais matrizes de pensamento inovador podem ter seu ninho em referências ainda mais antigas, como, por exemplo, no diálogo de Platão ao qual se deu o título de Kubernetes, ou a arte de pilotar barcos e homens.
Além da conexão essencial entre matemática e observação da natureza, presente no pensamento platônico, estão nessas reflexões as origens da Cibernética, mãe da inovação no mundo contemporâneo.
O consolidador dessa ciência e dos processos de automação, Norbert Wiener, se inspirou em Platão para elaborar sua teoria sobre Controle e Comunicação nos Animais e nas Máquinas.
De Platão a Wiener, de Wiener a Nash e de Nash a Benyus, talvez a essência da inovação seja a constatação do alto valor da diversidade (de elementos em uma equação, ou de alternativas em qualquer escolha).
Em todas essas fontes de inspiração brota o princípio segundo o qual há variáveis que podem ser controladas - e elas aumentam segundo avança o conhecimento científico - e variáveis que seguirão sendo intangíveis. Esse exercício de humildade também faz parte da receita da inovação.
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Luciano Martins Costa é jornalista e escritor, consultor em estratégia e sustentabilidade
Fonte: Brasil Econômico - 12/5/2011
12/05/2011