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20/09/2010

A medicina personalizada é o futuro

Thomas Miller falou, em Coimbra, de uma medicina à medida de cada um. Capaz, ainda, de poupar recursos. Nada é mais caro do que tratar de forma incorrecta, diz

CARINA FONSECA

Thomas Miller tem olhos expressivos, sorriso largo e fé num futuro em que os cuidados de saúde abandonam o protocolo para se centrarem, especificamente, no paciente.

O perito em Inovação da Siemens Healthcare esteve em Coimbra, recentemente, para falar de medicina personalizada: "A sua doença é diferente da minha. Essa é a essência."

Acredita que a medicina personalizada pode marcar uma nova era na medicina. Mas em que consiste?

A medicina personalizada tem sido o objectivo dos médicos desde sempre. Consiste em tratá-la a si e à sua doença específica. Em muitos aspectos, desviámo-nos da escola, nos últimos 10, 20 anos. Porque temos tentado encontrar padrões de cuidados. Ou seja, se tiver uma determinada doença, eu devo tratá-la seguindo estes passos, por esta ordem, desta maneira. O meu ataque cardíaco e o seu ataque cardíaco podem ser diferentes. Um exemplo perfeito de grandes progressos na personalização é o cancro da mama. A morte devido ao cancro da mama foi muito reduzida. Por três razões: detectamo-lo mais cedo; fazemos a diferenciação entre inofensivo, com lesões e com lesões mais agressivas; e até fazemos a diferenciação entre as suas bases genéticas. Se o seu cancro da mama revelar uma determinada proteína - a Her2 -, terá um medicamento diferente, melhor para si. Se não revelar esta proteína, não vai melhorar com este tratamento.

Trata-se de nos concentramos na pessoa, e não na doença.

Exactamente. Você não quer ser tratada como uma média estatística; quer ser tratada como é. A sua doença é diferente da minha. Essa é a essência. A base genética da doença e os seus genes e os meus genes diferem em apenas 5%. Mas esses 5% fazem toda a diferença na forma como vamos comportar-nos ao longo das nossas vidas e, em última instância, nas doenças que vamos ter. A nova compreensão da base biológica da doença, individualmente, vai permitir tratar de formas muito diferentes. O seu tratamento e o meu tratamento serão diferentes.

A medicina personalizada é o futuro?

Absolutamente. Isso significa que há mais sofisticação técnica e, portanto, o papel da tecnologia da informação e dos procedimentos de diagnóstico aumenta. A meta é garantir que, quando começar a tratá-la, o tratamento vai resultar.

Como é que se implementa a medicina personalizada?

Há um longo caminho a fazer.

Já está em prática?

Está a começar a ser posta em prática em toda a parte. Por exemplo, o medicamento para aquele tipo especial de cancro da mama que mencionei está a ser usado, de forma rotineira, também em Portugal. Mas há um longo caminho a percorrer até que cada doença seja subcategorizada em elementos diferentes e todos os tratamentos optimizados. É o caminho do futuro.

A medicina personalizada visa melhorar a qualidade e, ao mesmo tempo, reduzir os custos.

É exactamente isso. A coisa mais dispendiosa que se pode fazer é tratar alguém de forma incorrecta, ou tratar alguém que não está, de facto, doente.

Acontece muito?

Dou-lhe o exemplo do cancro da próstata. Se um homem fizer o teste de PSA - Antígeno Prostático Específico (uma proteína produzida pelas células da glândula prostática) e os níveis de PSA no sangue subirem, é exposto a uma série de biópsias num local muito sensível. Em 25% dos casos, não encontram o cancro. Mas, se encontrarem, é provável que operem. Cerca de 80% dos cancros da próstata não deviam ser tratados, porque não matam. A operação pode deixar efeitos secundários pouco agradáveis. Com a medicina personalizada, não nos limitaríamos a dizer à pessoa que tem cancro da próstata; diríamos que a biologia do seu cancro é tal que devíamos deixar ficar como está.

A medicina, hoje, é demasiado fria?

As pressões nos cuidados de saúde, por vezes, levam a isso. A medicina é uma arte e uma ciência - a ciência é um pouco fria. Mas, no final, lida com pessoas. E o objectivo dos cuidados de saúde personalizados é eu tratá-la, não de acordo com um protocolo, mas porque a conheço. Isso permite que a ciência se torne humana.

Fonte: Jornal de Notícias - 6/4/2010
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