Coluna O Porto e Suas Questões
Paulo Schiff(*)
A atividade portuária e o comércio internacional do Brasil vivem uma situação atípica e curiosa. O país enfrenta uma crise brava. Crescimento baixo, freio puxado nos investimentos, juros altos, desemprego. Para onde a gente se vira, ouve reclamação e choradeira. Mas, fora do Brasil, a crise já ficou para trás. As economias europeias e norte-americanas, como também as asiáticas, apresentam crescimento.
Como compram insumos brasileiros, principalmente commodities, os setores de exportação e de logística no Brasil não sentem os efeitos da crise.
Isso de um lado.
A movimentação de cargas no Porto de Santos, por exemplo, atingiu uma nova marca recorde neste primeiro quadrimestre. O total movimentado entre janeiro e abril superou em 3,58% a maior marca histórica para esse período, verificada em 2013. Com 35,82 milhões de toneladas operadas, o acumulado até abril deste ano superou o realizado em igual período de 2014 em 4,7%.
Não se pode falar em crise com esses números. Quase 5% de crescimento!!!
O ministro-chefe da Secretaria de Portos, Edinho Araújo, celebrou:
“O aumento na movimentação de cargas em Santos e em outros públicos atesta o vigor do setor portuário brasileiro, e nos traz a certeza de que esse crescimento contribuirá em muito para a economia brasileira”.
Por outro lado, a crise provoca a angústia de não conseguir dar conta dessa movimentação toda. Porque os investimentos na infraestrutura, esses sim, sentem brutalmente na pele os efeitos dela. Foram diminuindo, diminuindo... e sumiram.
De todas as obras projetadas e prometidas depois do colapso rodoviário na safra de 2013, só duas foram concluídas: o anel viário de Cubatão que substituiu o trevo da confluência das rodovias Anchieta e Domenico Rangoni e o novo acesso aos terminais da margem esquerda do Porto, em Guarujá.
As duas têm um denominador comum: foram bancadas pela iniciativa privada. O consórcio Ecovias construiu o anel em troca de um aditamento da concessão do sistema Anchieta-Imigrantes. E os próprios terminais de Guarujá custearam o novo acesso. Nenhuma obra que depende de recursos públicos teve progresso. Entre elas, a estrela do conjunto, a mais urgente-urgentíssima que é a reformulação da entrada de Santos.
Ela está dividida em três partes; uma federal, uma estadual e uma municipal. Nenhuma das três saiu do papel.
(*) Paulo Schiff é jornalista. Email: prschiff@uol.com.br