Coluna O Porto e Suas Questões
Paulo Schiff(*)
Quem acompanha com apreensão – e a apreensão é inevitável nesse acompanhamento – o roteiro que vai sendo estabelecido para o escoamento da safra brasileira de grãos 2013/2014 teve emoções fortes nos últimos dias.
Primeiro foram as notícias que se referem à safra.
Confirmando as previsões do final ano passado, os dados divulgados pelo IBGE e pela Conab mostram que o recorde vai ser quebrado e, se não atingir, vai se aproximar muito da marca mítica de 200 milhões de toneladas.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística registrou aumento na produção de grãos em 2013 de 16,2% em relação a 2012. De 161,9 milhões de toneladas de grãos, a produção brasileira saltou para 188,2 milhões.
E a Companhia Nacional de Abastecimento anunciou o 4.º montante parcial da safra 2013/2014: a projeção é de 196,7 milhões de toneladas, com possibilidade de um número ainda maior em função da soja.
Os 196,7 milhões de toneladas já representam um aumento maior do que 5% em relação à safra cujo escoamento provocou um apagão logístico na ligação Planalto–Litoral pelo Sistema Anchieta–Imigrantes várias vezes no ano passado.
Como nenhuma obra desse sistema viário e rodoviário veio – nem daria tempo – para melhorar a fluidez, a normalidade do escoamento da safra neste ano vai depender exclusivamente de providências burocráticas.
Na verdade, uma única providência burocrática que já foi anunciada pela Companhia Docas – Codesp: o agendamento prévio obrigatório dos caminhões.
Os motoristas vão ter de passar por um pátio regulador. Sensores instalados pelo governo estadual vão fazer reconhecimento ótico das placas nos postos de pedágio e informar à Codesp para que só os que estão agendados possam ter acesso às vias próximas do Porto.
O estacionamento nas portas dos pátios ou nas proximidades – e nos acostamentos das estradas – vai ser punido com sanções que podem chegar até à suspensão das atividades dos terminais.
O pátio tem o significado de ineficiência logística. Se o domínio logístico do proceso origem-destino fosse completo, ele seria desnecessário. Mas pode, pelo menos, reduzir os problemas neste ano em que obras como a entrada de Santos e o anel viário de Cubatão ainda não vão estar prontas.
A questão que ainda não está contemplada é a seguinte:
“O fluxo de caminhões de uma safra que aumenta e de uma capacidade de operação também em expansão não pode levar ao colapso da estrada mesmo sendo rigidamente disciplinado?
Se a movimentação agendada alcançar um patamar de 15 mil carretas e caminhões por dia, por exemplo, a estrada aguenta o tranco?
(*)Paulo Schiff é jornalista. E-mail: prschiff@uol.com.br