Coluna De Olho no Porto
Paulo Schiff(*)
Duas notícias ruins para o desenvolvimento da região de Santos nesta última semana também afetam direta ou indiretamente o Porto. Uma, a da licitação do VLT ter ficado deserta. Outra, o anúncio de “congelamento”, pelo governo estadual, da ligação seca entre Santos e Guarujá.
No caso do congelamento da ligação seca, depois desmentido pelo governador, a eliminação do trânsito de balsas, transversal ao movimento dos navios que entram e saem no estuário, afeta diretamente a atividade portuária. Inclusive a ocorrência de dois acidentes recentes envolvendo navios e equipamentos do sistema de travessia, reforça os argumentos de quem defende a ligação seca. E existe ainda a perspectiva da implantação do sistema de duas mãos de direção simultâneas para os navios no estuário o que multiplicaria as interferências entre os dois sistemas.
É lógico que também existe o risco de um choque entre navios e elementos construtivos da ponte, mas isso nem merece ser discutido. Em qualquer atividade, em qualquer movimento, o risco faz parte integrante.
A alternativa de um túnel deve receber uma atenção maior dos envolvidos na construção da ligação seca entre Santos e Guarujá. Uma porque afasta a ameaça de restrições futuras a navios ainda mais largos ou mais altos que os atuais. E outra que reduz significativamente as rampas de subidas e descidas dos automóveis e os impactos urbanos que elas certamente trariam para Santos e para Guarujá.
No caso do Veículo Leve Sobre Trilhos, a licitação deserta afeta também uma esperança dos trabalhadores portuários. Muitos deles moram em São Vicente, Praia Grande, Litoral Sul e atualmente têm condições precárias de acesso ao Porto, com transporte coletivo caro e de má qualidade. Basta observar o enorme número de bicicletas nesse percurso enfrentando até o desconforto dos numerosos dias de chuva na nossa região, para avaliar a deficiência do sistema de ônibus.
Mas a preocupação maior, nos segmentos ligados ao Porto, nem é essa, direta, com o VLT ou com a ligação seca.
É principalmente indireta. Porque essas atitudes representam sintomas de um pé no freio dos investimentos. O caso do governo paulista não é isolado. Também no plano federal a sombra do corte de gastos começa a encobrir a euforia inicial da vitória de Dilma.
Analistas apontam cortes mínimos de R$ 60 bilhões nas obras.
E nós temos aqui as perimetrais de Santos, em andamento, e de Guarujá, por começar; uma outra ligação seca, essa para veículos pesados, entre as duas margens do Porto e principalmente as obras habitacionais para recuperação, para expansão portuária, de áreas invadidas em Guarujá, como em Conceiçãozinha. Isso para não falar de projetos ainda mais ambiciosos e grandiosos como o projeto Barnabé-Bagres.
A expectativa até agora era otimista, de investimentos. A ameaça de desaceleração chega como um balde de água gelada.
(*)Paulo Schiff é jornalista. Email: prschiff@uol.com.br
07/02/2011