Coluna De Olho no Porto
Paulo Schiff(*)
Em agosto de 2009, a Associação de Engenheiros e Arquitetos de Santos promoveu uma audiência pública para debater a ligação seca entre Santos e Guarujá anunciada naquela época pelo governo estadual.
O nível técnico do debate entre as opções ponte e túnel foi bastante alto.
O presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultivas, Eng.º José Roberto Bernasconi, professor da Escola Politécnica da USP, apresentou as vantagens da construção de uma ponte.
O Eng.º Tarcísio Celestino, que presidia o Comitê Brasileiro de Túneis, um dos maiores especialistas do país, defendeu a construção de um túnel.
O presidente da Codesp, José Roberto Serra, também apresentou uma palestra nessa audiência. A abordagem de Serra foi a da interferência desses equipamentos na atividade portuária de Santos e de Guarujá. Mostrou soluções bem-sucedidas e fracassadas em vários portos do planeta. Prospectou o futuro do Porto de Santos. Justificou a necessidade de um outro projeto, entre a Alemoa, em Santos, e Vicente de Carvalho, em Guarujá, para o trânsito de caminhões.
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A participação do presidente da Codesp naquela audiência serve para simbolizar a diferença radical entre a diretoria atual da empresa do Porto e as que sentaram nessas cadeiras no passado recente.
Para pinçar na história da Codesp diretores com o mesmo nível de qualidade de Serra e dos companheiros de diretoria dele, peço ajuda à velha guarda portuária. Porque de 1980 para cá, não consegui, entre os observadores do Porto, nenhum que encontrasse um nome que unisse a consciência tranquila, o desassombro, a independência política e a autoridade técnica que permitiram a Serra participar de uma audiência com aquele nível de debate.
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Tem, entretanto, que ser técnico sem perder a sensibilidade política, diria Che Guevara.
E os resultados mais significativos dessa gestão que conseguiu conciliar as duas coisas podem ser sintetizados em quatro quesitos.
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O primeiro deles, sem dúvida, é a seriedade com que as questões portuárias passaram a ser tratadas.
A licitação de contratos vencidos de concessão de terminais serve como exemplo dessa seriedade. Esse procedimento deveria ser regra. Mas provocou até surpresa. E teve de atropelar a morosidade, o corpo mole e a falta de disposição da Agência Nacional de Transportes Aquaviários, a Antaq. Que tem demonstrado alergia a procedimentos licitatórios e predileção por prorrogações e aditamentos injustificados e, na falta deles, a empurrações com a barriga.
A diretoria da Codesp, nesses casos, adotou como diretriz sempre o interesse do país.
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O segundo quesito está em outra postura importante e da qual não se tinha notícia nos corredores da Codesp há muitíssimo tempo: a de planejar o futuro. Barnabé Bagres deixou de ser um croquis numa folha de papel e ganhou o estudo de viabilidade contratado junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento, o BID. O Master Plan está praticamente pronto e o PDZ a caminho.
O futuro do Porto voltou a ser discutido. Avalia-se as alterações de cenário que certamente vão ser trazidas pela exploração do petróleo e do gás da Bacia de Santos. Discute-se novamente as obras da infra-estrutura de acesso ao cais.
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A terceira transformação fundamental que deve ser relacionada aqui é a da priorização. É graças a essa escolha criteriosa de prioridades que as dificuldades ambientais foram enfrentadas e superadas e a dragagem do canal do estuário foi retomada. E com aprofundamento e alargamento. As perimetrais andaram. A de Santos, na obra. A de Guarujá, na definição de um traçado que contemplasse também as conveniências do município.
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Em quarto lugar, o mais importante de tudo: a confiança da comunidade portuária na resolução dos entraves e gargalos do porto, no aprimoramento da atividade e no crescimento dos negócios e da movimentação de cargas foi recuperada. Um clima de otimismo foi formado a partir do foco nos portos gerado pela criação da Secretaria Especial dos Portos e da gestão técnica da diretoria formada pelo ministro Pedro Brito para a Codesp.
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É interessante observar, e isso vale principalmente para a nova presidente do Brasil, Dilma Roussef, que a comparação do momento atual do Porto de Santos com o passado recente construiu em empresários e trabalhadores portuários a consciência de que as ações oficiais relativas ao setor devem ser resultado de uma política de estado e não de governo. Que tenham continuidade e não rupturas.
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Para finalizar, quero só dizer que estava com muita saudade desse contato direto com a comunidade portuária e que estou muito agradecido à direção da Associação Comercial de Santos pela oportunidade que essa coluna semanal no portal da ACS apresenta para a retomada desse diálogo.
Votos de sucesso ao portal e de um ótimo 2011 para a comunidade portuária.
Até a semana que vem!
(*)Paulo Schiff é jornalista. Email: prschiff@uol.com.br
14/01/2011